terça-feira, 18 de agosto de 2009

NÃO SE TRADUZ POESIA

Não aprendi o francês, mas lendo As flores do mal, de Charles Baudelaire, em português, chego à conclusão de que a poesia é intraduzível. Abandono o livro para nunca mais retomá-lo (pelo menos até não saber a língua original). Entre línguas tão diversas é impossível a fidelidade com relação ao ritmo, à métrica, à rima, à estrutura sintática, entre outro elementos exclusivos da poesia. A tradução consegue transportar com êxito o que disse o poeta, nunca o como disse.
Para ler Neruda em espanhol, aprendi o espanhol.

4 comentários:

Al Reiffer disse...

Froilam, concordo contigo, e não há como não concordar, que por melhor que seja a tradução sempre se perderá uma parcela significativa da poesia, principalmente do "como disse", como tu mesmo afirmaste. Porém, discordo que poesia não deva ser traduzida, porque sempre se mantém algo importante da poesia original quando a tradução é bem feita. Além do mais, a tradução da poesia é fundamental para a difusão desta, imagina como seria se ninguém traduzisse as obras máximas da poesia universal para outras línguas. O mundo já restrito da poesia seria ainda menor, pois sabemos que grande parte da população não tem condições de aprender outro idioma. Li várias traduções do "Fausto" de Goethe, a alma é a mesma em todas elas, a essência está ali, e não só a essência, mas também uma boa parte da beleza e da emoção originais. Claro que o ideal seria ler no original, mas desprezar a tradução me parece um desperdício.

Eu também não sei francês, mas já li várias traduções de "As Flores do Mal" e outras obras de Baudelaire, bem como de vários outros poetas franceses e alemães (também não sei alemão) e comparando as traduções, não vejo tanta diferença de uma para outra, o que significa que muita coisa do original é mantida. E vale a pena ler sim essas traduções. Nem que seja apenas para assimilarmos a ideia, o pensamento, o sentimento do autor por vias indiretas. Não há tanta diferença assim. Como exemplo, cito os poemas de Poe. Já os li no original em inglês e na tradução e garanto que quando a tradução é bem feita, o pensamento e o sentimento do autor são realmente mantidos, percebemos que ali está a alma de Poe, ainda que se perca em ritmo e em efeito. Apenas penso que o tradutor deve ser sempre também poeta,assim terá a sensibilidade necessária para manter o que é fundamental.

Debora disse...

Parabéns! Quero aprender espanhol para traduzir músicas e o Francês pra fugir pra Fraça. Abraços!

Ivan Zolin disse...

Froilam!

Concordo com você sobre esse tema e também com o que muito bem escreveu o leitor da primeira postagem (A.Reiffer).
Traduzir ou não, eis a questão?
Sobre isso lembro uma conversa que tivemos(a obra -Ulisses), o seu argumento era pertinente e emprego em situações semelhantes. Para quem não é nativo o conhecimento da língua estrangeira é limitado, a cultura necessita muito mais do que compreensão racional.
O tradutor, se for um bom conhecedor das linguas, traz mais informações do que minha capacidade individual de leitura no original
Sei que poesia é diferente, mas compreendendo o que é dito, já é um bom começo.

Zolin

Day disse...

pelo que li a respeito de Baudelaire, ele teria "inovado" na poesia ao abandonar a métrica e a rima, porque fazia uma espécie de poesia em forma de prosa. Creio, na minha ignorância, que assim talvez não se perca muito na tradução.