sábado, 30 de maio de 2009

MUNDO CRUEL


Basta a capa do Zero Hora de hoje para nos exigir algumas reflexões, enquanto nada fazemos para melhorar o mundo (a começar por nós mesmos). Três manchetes dão conta de grandes problemas brasileiros: mortes no trânsito, avanço da droga e superlotação nos presídios. Com a vigência do novo CTB, janeiro de 1998, havia uma expectativa de mudança, alentada pelos primeiros resultados na prática. Nos últimos anos, no entanto, as chamadas "tragédias" vem ocorrendo com mais frequência. Numa sociedade altamente consumista, em que o maior número de automóveis é associado a um aumento de felicidade, as mortes e sequelas causadas por acidente devem ser consideradas como fatores que negam esse estado ideal. Infelizmente, apenas as famílias enlutadas com a perda de um membro hão de compreender a profundidade dessa verdade que emerge da desgraça. As pessoas necessitam andar mais devagar, dentro de um automóvel ou fora dele, em busca da tal felicidade. Apesar dos pesares, penso que elas descobrirão isso futuramente. Nas palavras de Jorge Mello, há uma felicidade nas coisas simples, como andar a pé, por exemplo. Quanto às drogas, sou pessimista até a raiz dos cabelos (que me arrepiam ao saber que o crack invade nossa pequena Terra dos Poetas, para causar os piores danos à sociedade). O ZH publica nas páginas 4 e 5 uma ampla matéria sobre o assunto. O "tripé para derrotar a pedra" é formado pela prevenção, pela repressão e pelo tratamento. Em Santiago, bastaria os dois primeiros. O tratamento é prova incontestável do fracasso dos pais, da escola, dos poderes constituídos, da mídia, seja lá de quem for a responsabilidade por prevenir e reprimir. O resultado é mais violência e morte. Traficantes matam quem se interpõe em seus caminhos para vender, drogados morrem de tanto consumir. Uns são encarcerados como criminosos, e outros, perdoados como dependentes. Agora os presídios não comportam mais gente. Muitos (ex-)cidadãos perderão a vaga de "graduação superior" em suas especialidades criminosas. Uma visão absurda do futuro: nossas casas serão presídios particulares, dentro das quais nos protegeremos do mundo cruel que já se vislumbra do lado de fora.

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