sábado, 4 de abril de 2009

VERSOS HEPTASSÍLABOS (7 SÍLABAS)

Os poetas iniciantes na arte se dizem visceralmente desobedientes à metrificação, desenvolvendo uma ojeriza pelo processo. Dessa forma, passam a produzir versos livres e nem sempre brancos, uma vez que continuam a rimar no final da linha. A rima conduz à estrofação regular (que sempre foi uma característica de poemas compostos com versos isométricos). O resultado final é de um ineditismo formal jamais visto na história da Literatura, desde os trovadores medievais aos poetas contemporâneos. Se tomarmos a poesia brasileira depois da revolução modernista, independente dos cânones consagrados pelas escolas parnasiana e simbolista, veremos que os grandes poetas não deixaram de produzir metricamente. Quase a totalidade da obra nejariana foi produzida em sete ou dez sílabas poéticas. Quase a totalidade da poesia crioula, cujo melhor exemplo é Jayme Caetano Braun, continua em heptassílabos (para espanto dos nossos compositores-poetas):
A um - bo-chin-cho, - cer-ta - fei-ta,
fui - che-gan-do - de - cu-rio-so.
Que o - ví-cio é - que - nem - sar-no-so,
nun-ca - pa-ra, - nem - se a-jei-ta.
Bai-le - de - gen-te - di-rei-ta,
vi - de - pron-to - que - não - e-ra.
Na - noi-te - de - pri-ma-ve-ra,
ga-gue-ja-va a - voz - dum - tan-go,
e eu - sou - lou-co - por -fan-dan-go
que - nem - pin-to - por - qui-re-ra.
....
Salvo raríssimas exceções, não encontramos casos de versos livres rimados entre si. Ao contrário, um dos melhores poemas gauchescos é Paisano, escrito por Luiz Menezes, obedece à métrica e apenas ocasionalmente à rima (nos dois primeiros versos):
Um - di-a - che-gou - de - lon-ge,
nun-ca - se - sou-be - de - don-de...
Cha-péu - que-bra-do - na - tes-ta
e um - len-ço - pre-to ao - pes-co-ço,
ne-gro - co-mo o - pen-sa-men-to
de u-ma - chi-na - des-pei-ta-da.
...
O melhor exemplo de versos livres na poesia gauchesca é Herança, de Apparício Silva Rillo:
...
Naqueles tempos, sim,
naqueles tempos os bois mandavam nos homens,
e por isso a vida era mansa na cidadezinha arrodeada de ventos,
chácaras e estâncias.
Os touros cumpriam devotamente o seu mister
e as vacas, pacientes, pariam terneiros e terneiros e terneiros.
O campo engordava os bois,
as tropas de abril engordavam os homens
e os homens engordavam as mulheres.
...
Arrisco afirmar que o melhor da poesia, que nasceu do ritmo, irmã da música, sempre terá forma definida com uma regularidade apolínea. Nenhum poema superará o soneto. O que recitamos de Camões, Olavo Bilac, Vinícius de Moraes...?

2 comentários:

Al Reiffer disse...

Concordo contigo, Froilam, o ritmo é fundamental na poesia,embora acrescentaria o seguinte: ritmo não significa necessariamente uma metrificação constante. Um poema pode não ter todos os versos em uma mesma sílaba métrica,e mesmo assim ter um ritmo perfeito, como poder ser muito bem metrificado e ter um ritmo truncado. O versos de Fernando Pessoa são os melhores exemplos disso dentro da literatura em língua portuguesa. Muito de seus versos não possuem a metrificação clássica, porém estão entre as mais altas manifestações poéticas do século XX. É que seus versos possuem o que chamo de ritmo psicológico, que é aquele que nos contagia, que nos carrega sem precisar da métrica tradicional, um ritmo interno das palavras, de sua entoação natural e de suas relações emocionais com os palavras que as rodeiam. Isso também ocorre muito com José Régio. No Brasil, eu citaria Manuel Bandeira, Drummond e Murilo Mendes, mas claro que também existem vários outros.É um ritmo muito mais intuitivo do que mensurável.

FROILAM DE OLIVEIRA disse...

REIFFER
Claro, há a combinação de versos com medidas diferentes, como o nosso Hino Nacional. Pessoa também conseguia o ritmo a partir
do paralelismo (recurso que o torna o maior poeta da Língua Portuguesa).
Carlos Drummond foi grande
ao fazer uso do recurso
paralelístico.
FROILAM