segunda-feira, 30 de março de 2009

RECUERDO POÉTICO

A postagem abaixo me fez retornar no tempo, para o final da década de setenta mais precisamente. Depois das aulas noturnas no Cristóvão Pereira, dirigia-me ao bar/restaurante da Venâncio Aires, onde hoje há uma loja de produtos para festa, em frente à casa do seu Arno Gieseler. Nunca fui boêmio ou noctívago, faltava-me dinheiro para tal. Também não tinha vocação para vagabundo. Seria a verve artista, a me levar àquele bar de uma rua que ninguém sonhava um dia homenagear os poetas? Ali conheci um bêbado que me recitou Duas Almas, de Alceu Wamosy. Seu nome era Luisinho, inteligente e bondoso (uma vez que me ditou o soneto do simbolista gaúcho com todas as sílabas). Desde lá, venho recitando Duas Almas com esta emoção que me faz poeta.
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DUAS ALMAS

Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
entra e, sob este teto, encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
vives sozinha sempre, e nunca foste amada...

A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...

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