segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

REAL - FANTÁSTICO

O real e o fantástico se tocam no romance Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago. O cego que vai à procura de atendimento, tendo a perna infeccionada, constitui a realidade. O soldado que o alvejou mortalmente, com medo de ser contagiado pelo interno, parece ter saído de um conto de terror. Em seguida, mais nove seriam mortos “sem mais nem menos”. A presença dos militares no controle do manicômio empresta uma conotação quase kafkiana, de um poder desproporcional que, de repente, excede sem uma justificativa plausível. Ainda é cedo para apostar que Saramago se deterá no drama naturalista, isto é, na retratação fidedigna da dia-a-dia dos cegos. Sua tese romanesca é de que as pessoas, vivendo em estado precário, sem o principal órgão dos sentidos, perdem facilmente as qualidades que as distingue dos animais. Pior: com o livre trânsito dos defeitos imanentes à condição humana.

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