domingo, 21 de dezembro de 2008

FORMA E CONTEÚDO

Alguns poetas principiantes se rebelam contra a forma, empunhando a velha bandeira do Bandeira. Engraçado, execram o ritmo como forma, não a rima que usam obrigatoriamente em seus prosaicos poemas. Os versos (cuja definição implica numa forma) que escrevem mais ou menos do mesmo comprimento, agrupados em estrofes idênticas em número de linhas, não seguem a métrica, todavia, são obrigatoriamente rimados. Isso ocorre amiúde com a chamada poesia gauchesca. Já desenvolvi um argumento que, penso, ser o máximo convincente sobre o assunto. Jayme Caetano Braum verteu toda sua extensa obra em heptassílabo (sete sílabas):
ooooA bochincho, certa feita
oooofui chegando de curioso...
Por que será que Jayme Caetano Braum, poeta crioulo, escreveu seus poemas em heptassílabos? Os nossos poetas e letristas santiaguenses saem disso?
O melhor poeta gaúcho no gênero, Apparício Silva Rillo, escreveu o poema Herança em versos livres, sem métrica ou rima:
oooo...
ooooNaqueles tempos, sim, naqueles tempos
ooooos bois mandavam nos homens,
ooooe por isso a vida era mansa na cidadezinha
ooooarrodeada de ventos, chácaras e estâncias.
ooooOs touros cumpriam devotamente o seu mister
ooooe as vacas, pacientes, pariam terneiros
ooooe terneiros e terneiros.
ooooO campo engordava os bois,
ooooas tropas de abril engordavam os homens
ooooe os homens engordavam as mulheres.
oooo...
Um dos poemas mais declamados de Luiz Menezes, Paisano, segue a metrificação perfeita (redondilha maior, sete sílabas), mas sem rima:
ooooUm dia chegou de longe,
ooooNunca se soube de donde...
ooooChapéu quebrado na testa
ooooE um lenço preto ao pescoço
ooooNegro como pensamento
ooooDe uma china despeitada.
ooo
Em Santiago, há muitos que escrevem às escuras, sem conhecer os elementos poéticos. Acertam aqueles que optam pelo verso livre. Livre de quê?
Forma e conteúdo não se dicotomizam na poesia.

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