quarta-feira, 19 de novembro de 2008

ESCREVER SOBRE SI

A genealogia do blog está intimamente ligada com o que Fabiana Cristina Komesu (doutora em Lingüística da UNICAMP) chama de "ferramenta de auto-expressão". Em poucos anos, no entanto, verificou-se um salto qualitativo na publicação de outros gêneros já consagrados pelo uso.
Postar sobre si mesmo é arriscado, exigindo-se do escrevente, ou humildade a toda prova, ou autoconhecimento. Fora dessas condições, o melhor é o silêncio. Há um enorme risco de se mostrar ignorante ou presunçoso. Talvez tenha sido isso o que Dayana Pessota Leite expressou com outras palavras sobre a autobiogafia.
A última postagem do Júlio Prates, não sem razão o blogueiro mais lido de Santiago, é um exemplo luminoso (para me apoiar na alegoria de Diógenes) de como não é feio nem antiético escrever sobre si. Em poucas linhas de A lanterna santiaguense, ele consegue sintetizar toda sua angústia existencial. De uma forma bela e pungente ao mesmo tempo, ao mesmo tempo referencial e poética. Ele deve editar um livro com essas crônicas pessoais (se é que posso denominá-las assim).
P.S.: Dificilmente, o Júlio encontrará alguém que tenha lido Émile Zola, o maior representante da escola naturalista da literatura universal. No Brasil, seu maior discípulo é Aloísio Azevedo, que escreveu O cortiço, Casa de pensão, O mulato, entre outros. Como o paradigmático Germinal, são romances que descrevem e narram a realidade nua e crua, instintiva e sofrida, preconceituosa e miserável das camadas sociais menos favorecidas pela sorte. Já lí esses romances, mas prefiro o realismo mágico dos latinos-americanos. Nestes há a alternativa estética (que, segundo Nietzsche, torna o mundo mais suportável).

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