sexta-feira, 31 de outubro de 2008

POEMAS DRAMÁTICOS

"Carlos Nejar é, talvez, de todos os poetas vivos e ativos no Brasil no momento, aquele que maior número de estudos suscita em sua obra. Ou melhor, aquele em torno de quem, apesar dos numerosos artigos e ensaios, existe, ou vai se criando, uma polêmica acirrada: há os que o exaltam o máximo, considerando-o, não sem razão, o maior nome já surgido na poesia desde João Cabral. Pois esse gaúcho, em pouco menos de vinte anos, construiu uma obra poética de alcance e profundidade tais que pode ser tranqüilamente colocado entre os 'grandes' deste século [XX]." FERNANDO PY
oo
Discordo do comentário crítico do autor acima. Pela extensão e profundidade de sua obra, Nejar já é o maior poeta da pátria proclamada por Fernando Pessoa - a Língua Portuguesa. Duas condições o impedem de ser reconhecido como tal: é vivo e é profundo (não apenas pela riqueza metafórica, mas pelo discurso filosófico de sua poesia, merecendo a denominação de "poeta da condição humana").
Pouco o lêem, é verdade. João Cabral seria pouco lido não fosse seu poema dramático (lírico e épico) Morte e Vida Severina que o popularizou. No ritmo muito lento com que vem ocorrendo a evolução do brasileiro, cujo nível de letramento apenas ultrapassa a alfabetização, demorará muito para Nejar ser reconhecido como um grande poeta.
Minha vontade inicial era de postar sobre o livro cinco poemas dramáticos do poeta gaúcho, sem a introdução acima. A coisa flui, e acabei escrevendo mais do que recomendam os especialistas na produção textual.
Editado em 1983, o livro não é produto que se encontre disponível nos sites de venda, como Submarino, Saraiva e Record (a própria editora). Exceção da Estante Virtual. Comprei-o na Livraria Osório de Curitiba, a melhor loja de livros usados dessa capital.
Na orelha do livro, os editores escrevem: "Este livro, reunindo CINCO POEMAS DRAMÁTICOS - Fausto, As Parcas, Joana das Vozes, Miguel Pampa e Ulisses - que a Record apresenta ao público leitor, é, sem dúvida, um dos altos momentos da criação brasileira contemporânea. Carlos Nejar busca 'a poesia total', e é lírico, épico, dramático [...], usa meios ficcionais e cênicos, cria personagens ou seres coletivos, refaz velhos mitos e temas como Fausto, Ulisses e as Parcas (tecedoras do destino), com a coragem de dar-lhes nova perspectiva".
Em Fausto, há os seguintes personagens: Fausto, Júlio, D, Anjo, Amada e Coro, que ganham vez ao longo de cinco atos. Em As Parcas, 4º Ato, 3ª cena, a Mulher fala:
oo
Todo o meu destino
com o teu se cruza
como dois ciganos
a cruzar as veias
pelo mesmo engano
de viver ou dano
do imprevisto sonho.
oo
O Homem responde:
oo
Mas não é engano
este momento pleno.
oo
O poema se encerra com estes versos:
oo
Juntos:
oo
O universo está chegando
com seus cavalos acesos. Está chegado
o universo. Deus é quando
percebemos que amamos.
oo
O poema Miguel Pampa, final do 4º Ato:
oo
Miguel:
oo
(Com a garrafa de vinho na mão)
oo
A canção
é como o vinho.
Amadurece
cantando.
Tem sol
por dentro, tem
sol e pele
macia, ventre
também macio.
oo
É um rio
que vai descendo
de fogo, vento,
de fogo.
E canta
a garrafa.
Se acaricia
e ela canta
como se tivesse
alma presa,
presa
sob a rolha.
oo
(E acaricia a garrafa)
oo
Alma tem
noutra alma
acesa.
oo
Zé Bandônio,
acendeste
toda a água
da represa.
oo
Adão:
Que de alegria
rebenta.
oo
Jacinta:
Inundando
a natureza.
oo
Miguel:
É uma luz
que vai
levando
a correnteza.
oo
Todos:
Do dia.
oo
Para encerrar esta postagem, transcrevo um dos melhores críticos de Nejar, Franklin de Oliveira: "Carlos Nejar é, hoje, um dos grandes nomes da poesia brasileira de todos os tempos, e não apenas da contemporânea (para mim, um truísmo). Num país como o nosso, em que se escrevem muitos versos mas em que há pouca poesia, esse feito se explica pela sua obstinação em incorporar o contingente ao eterno. Ao lado dessa obstinação, há uma outra que o torna singular com igual intensidade: a de tratar igneamente a palavra. A linguagem de Nejar tem qualquer coisa de labareda: consome, ao mesmo tempo que ilumina, as experiências humanas fixadas no seu canto".

RISO TROC(TSK)ISTA

Marx, sob um sec'lo
de história,
ri pela segunda
vez.
Riso baixinho,
troc(tsk)ista
em meio à barba
pedrês.
oo
As suas viúvas
cubanas,
chinesas,
russas,
bacanas
(aqui) igual-
mente riem,
aspirando o pó
de O capital.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

FERMINO MACHADO DE OLIVEIRA

No dia 31 de outubro, o Rincão dos Machado vivia uma grande festa: o aniversário de Fermino Machado de Oliveira. Meu avô nascera em 1900, filho de João José Machado, neto de Zeferino Machado (que, no retorno da Guerra do Paraguai, acabou se estabelecendo em terras que constituiriam o 3º Distrito, Vila Florida). Fermino foi um dos homens que mais trabalhou nesta vida. Casou-se com Francelina Soares Franco, com quem teve sete filhos. Enviuvou e contraiu segundas núpcias com Dorilda Meireles Flores. Mais treze herdeiros. A grande família, com o acréscimo de netos e bisnetos, povoava o rincão na segunda metade do século findo. A festa de aniversário do meu avô se dividia em duas partes: comilança e dança. No último de outubro, carneava-se uma vaca gorda, avisava-se os parentes mais afastados, convidava-se os vizinhos. O Caetano Morozo não faltava – era o gaiteiro. Abraçado à velha Scala, marcava o ritmo batendo o pé no soalho da sala. Todos comiam, dançavam e eram felizes. O velho Fermino, sempre apolíneo, permitia-se alguns arroubos dionisíacos. Infelizmente, a partir de uma queda no Rosário cheio, foi tolhido paulatinamente dos movimentos. A enfermidade o castigou por quatro anos, vindo a falecer dois dias antes de completar 77 anos. Depois de sua morte, o rincão começou a se dispersar para os mais distantes lugares do mundo. Hoje lá residem apenas 11 descendentes diretos do meu avô. O centro do rincão virou tapera, onde o silêncio é interrompido pelo vento no arvoredo e por estas lembranças.
(Coluna do Expresso Ilustrado)

JORNAL DA FEIRA

A partir de hoje, circula o Jornal da Feira, elaborado pela Secretaria de Educação e Cultura de Santiago. O informativo assunta sobre a 11ª Feira do Livro, que ocorrerá de 06 a 09 de novembro de 2008, na Praça Moysés Viana. Da abertura ao encerramento, as páginas 2 e 3 trazem o imenso cronograma, para que o público saiba e escolha o melhor momento de visitar a feira. As oficinas funcionarão no Centro Cultural, Centro Empresarial e ULBRA. O quadro Sessão de Autógrafos traz o dia, hora, autor e obra. Esse evento cultural vem evoluindo a cada ano, na estruturação material e intelectual. Os santiaguenses devem correspender com a sua visita.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

atirador


minha lucidez
é preciso
tiro de fuzil
(entra fundo
na carne do discurso)

minha lucidez
é incômoda
réstia de sol
(ofusca
pela claridade)

[...]

tenho cunhetes
de fogo
atilhos de luz
e comandamento

quem
há de?

oo

(Esse poema também escrevi hoje. O título não tem relação com o quadro O poeta do maior gênio da Pintura do século XX, Pablo Picasso. Pela primeira vez, lancei mão de um recurso gramatical, os colchetes, para mudar o enfoque sem a numeração I, II. Outra coisa: as metáforas.)

ge(ner)ometria


os homens
têm quatro lados
iguais (por fora
e por dentro)
são retilíneos,
quadrados,
vultosos, sem
movimento

contrariamente,
as mulheres
têm muitas curvas
(visíveis
e ocultas)
são circulares,
dançantes,
leves, sensíveis
00
(Hoje escrevi o poema acima, evidenciando a distinção entre os gêneros masculino e feminino. Gustav Klimt, pintor simbolista, identificou pictoricamente o homem com o quadrado e a mulher com o círculo. A tela O beijo é paradigmatica.)

sábado, 25 de outubro de 2008

VERÃO - REFLEXO


As andorinhas
eram céu de asas
e, a sós, faziam
verão
no oitão
das casas.
oo
- Ela pensava o amor
como se fosse visgo.
oo
As macieiras - bem ou mal -
encantavam serpentes
no pomar
- em carmim, a pele
apalpava
suco e polpa.
oo
- Ela pensava o amor
como se fosse fisga.
oo
O cão
pensava o pão...
e o sono
través a mão
do dono.
oo
- Ele era um peixe
mas pensava pássaro...
oo
Poema de Ney A. Dornelles, do livro Tempo pássaro (organizado pelo autor para a edição). Infelizmente, Ney não conseguiu publicá-lo. As raras vezes em que nos encontramos, não lhe disse da admiração que me causava sua poesia. Há algo em seu verso que surpreende, que ultrapassa o discurso prosaico (Ela pensava o amor/ como se fosse visgo). O poeta tinha um poder de síntese, uma ousadia sintagmática (o corte vertical, com a inserção de um signo aparentemente estranho, mas que causa o efeito fônico, sintático ou semântico desejado).

SENTENÇAS SÁBIAS

Nos anos cinqüenta, entre os colunistas do jornal santiaguense A COCHILHA (sic), chamou-me a atenção N. J. Seixas. O título de sua coluna era Sentenças Sábias, que consistia em uma série de sentenças, condensadas e numeradas por ele. A seguir, transcrevo o publicado na edição nº 46, de 18 de agosto de 1956:
1 – Não existe religião mais elevada do que a verdade.
2 – Aqueles que, em nome de erros tradicionais, de falsos dogmatismos, se opõem à livre investigação da verdade, conspiram contra a dignificação da humanidade.
3 – Nada se deve aceitar antes de comparar fatos com fatos, idéias com idéias, doutrinas com doutrinas.
4 – Aderir conscientemente àquilo que convém aos nossos interesses materiais, como fazem muitos incrédulos, que fomentam a religião para domesticar os pobres, equivale a renegar toda moral.
5 – Arautos de um ideal são aqueles que não emudecem ante a hostilidade dos rotineiros; apóstolos são aqueles que não acomodam a sua conveniência a vis necessidades de aproveitamento pessoal.
6 – A obra e o exemplo dos idealistas e dos apóstolos da verdade sobrevivem através dos séculos, aumentando o patrimônio moral da espécie humana.
7 – O progresso moral não é senão o triunfo da verdade sobre a superstição.
8 – O que é a procura da VERDADE? É o desejo da verdade lógica, na ciência; é o desejo da verdade estética, na arte; é o desejo da virtude, na moral; é o desejo da justiça, no direito.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

JOÃO GOULART


Fui à Câmara de Vereadores assistir ao documentário sobre João Goulart. Inicialmente, o presidente Nelson Abreu abriu a Sessão Especial, em seguida, falaram o Fábio Monteiro e Cristofer Goulart (neto de João Goulart). O documentário, com duração suficiente para cansar o espectador, pode ser considerado uma longa lição de História do Brasil, desde Getúlio Vargas ao presidente Geisel. Diversas personalidades brasileiras fazem seu comentário acerca dos acontecimentos políticos. No final, o tempo é avançado em 30 anos, para mostrar o uruguaio Mario Neira Barreiro, assaltante de banco que se encontra preso em Charqueadas. O depoimento dele, que diz ter pertencido à antiguerrilha em seu país, aponta para a execução de João Goulart. A intenção dele é fazer que sua prisão ganhe uma conotação política, seu nome adquira fama e venda o livro. Segundo ele, João Goulart foi envenenado com comprimidos, numa tática bem diferente dos demais líderes sul-americanos presos e mortos sumariamente pela Operação Condor. O documentário se encerra com o conhecido pensamento que existe três lados numa controvérsia: o meu, o teu e o certo. Ou, mudando o enfoque: o do establishment (João Goulart morreu de um ataque cardíaco), o lado defendido pela família e pelos direitos humanos (da execução) e o que realmente ocorreu. A História, com "H" maiúsculo, imparcial, verdadeira, não interessa a ninguém. A tese da execução é mais atraente, embora abra uma outra ferida incicatrizável no organismo da nação. A partir da fala de Dona Maria Thereza Fontella Goulart, viúva do ex-presidente, ainda prefiro a versão oficial a pensar que houve a morte por envenenamento. Maria Thereza diz com certa vaguidade que o marido era um tanto displicente com os medicamentos, às vezes tomava, às vezes não. Infere-se que ela não se ocupava inteiramente com o coração de João Goulart (já enfartado uma vez). Em seu testemunho, o capataz da fazenda em que moravam diz que o patrão tomou um comprimido e morreu pouco tempo depois (meia hora, uma hora, não me recordo bem, uma vez que fui ao banheiro). O que mais gostei do documentário, para encerrar, foi a seguinte afirmativa de um político: o que matou Jango foi a política externa dos Estados Unidos, sabidamente desastrada. A figura de retórica (metonímica ou pleonástica) é mais verdadeira em se tratando de Salvador Allende, presidente chileno, bombardeado no Palácio de La Moneda.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O ANTA ANÔNIMO

Juremir Machado da Silva escreve em sua coluna do Correio do Povo de hoje: “Um colunista deve ter obsessões, inimigos, mesmo que eles não saibam disso, e implicâncias”. O escritor diz que Paulo Coelho se encontra entre suas “antas” prediletas. Assino o CP online, principalmente para ler Juremir, mas não o tenho como modelo. Em Crítica e Autocrítica, por exemplo, sempre polemizei em torno de idéias, evitando envolver pessoas. Isso se deve ao meu temperamento, ao caráter e à personalidade: não gosto de inimigos. Até esta semana, pelo menos. Ao ler a coluna do Juremir, tive um insight: um inimigo não me fará mal, pelo contrário, quem sabe ele não se constitua justamente naquilo que me falta para continuar motivado. Sem me dar conta, sou obscuro algumas vezes, outras vezes repetitivo, enfadonho até no uso deste gênero textual (artigo de opinião). Há leitores que pedem um pouco mais de combatividade, de ataque direto contra inimigos personalizados. A partir de hoje, escolho alguém para ser anta, saco de pancadas, alvo de execração ou coisa que o valha. Meu inimigo é o anônimo que comenta acerca da coluna do Expresso e das postagens mais ou menos polêmicas deste blog. Saio com uma grande desvantagem, com relação à proposta de Juremir Machado da Silva: não conheço meu inimigo (tenho suspeitas), ele me conhece. Não é um anônimo qualquer, uma vez que ridiculariza, avilta, bate e o escambau com uma admirável serenidade. Preciso aprender essa estratégia, ainda que lance mão dos manuais de blefador. Como pós-darwinista, penso que meu crítico anônimo descende de um abavô que apenas sobreviveu porque, sendo desafiado para um duelo, matou seu desafeto à traição. Seu gene da covardia conseguiu replicar de geração a geração até constituir o anta anônimo.
(A ser publicado na próxima edição do Expresso Ilustrado, com ligeiras alterações)

FILINTO CHARÃO, O POETA LEMBRADO

No dia 8 de setembro de 1956, o Oracy Dornelles escreveu um artigo no jornal A COCHILHA com o seguinte título: Filinto Charão, o Poeta Esquecido. Mesmo que publicado seis anos após a morte do poeta, havia um triste vaticínio no artigo do Oracy. Santiago acabaria esquecendo Filinto Charão. No entanto, "não há mal que sempre dure..." (diz o ditado). O projeto em execução da Rua dos Poetas, coordenado pela Secretaria de Educação e Cultura de Santiago, para nossa ventura, homenageia Filinto Charão na próxima quadra, com o retrato do poeta, a transcrição de alguns de seus versos e a inclusão de diversos poemas na antologia 2. Posso adiantar que os sonetos Noite de Inverno e No Ermo são excelentes. Passados 52 anos, o artigo do Oracy continuará sendo verdadeiro, não mais no título, mas na frase profética com que encerra seu texto: O mundo literário dirá a última palavra. A Terra dos Poetas, com a lembrança de Filinto Charão, representa um cadinho desse mundo.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

COMENTÁRIO ANÔNIMO

Sou contra o anonimato em todos os sentidos, principalmente de certos pedantes que se julgam no direito de emitir opinião debochada sobre o que escrevem pessoas que, por se identificarem, são superiores a ele. Seguindo uma lógica da teoria evolutiva, hoje comprovada pelos estudos genéticos, imagino que o ser anônimo foi engendrado pelo gene de algum de seus ascendentes que sobreviveu porque, para não enfrentar um inimigo abertamente (num duelo, por exemplo), matou-o à traição.
Um comentarista anônimo sujou a bela postagem abaixo (AZUL AZUL), criticando minha coluna do Expresso Ilustrado. Não posso excluir e reeditar meu texto, uma vez que altera a data. Pedante ao extremo, blefador eu diria, cita uma "verdade heracliteana", corrigida para "inverdade heracliteana". Sugere que eu estude mais, o blefador, como se ele soubesse mais dos pré-socráticos. Ignora ele que poucos fragmentos de Heráclito foram salvos; que Crátilo, discípulo de Heráclito, equivocou-se ao julgar que o mestre considerava a impossibilidade do conhecimento; que Platão, influenciado por Crátilo, acabou distorcendo ainda mais o pensamento de Heráclito. Pois bem, aconselho ao pernóstico que leia mais sobre os pré-socráticos, para não os confundir com os sofistas. Leia Hegel, que admirava em Heráclito justamente o contrário do que insinua meu comentarista anônimo: a possibilidade do homem de conhecer o mundo em constante transformação. Leia Nietzsche, também. Não há passagem nesse filósofo heracliteano que aponte para o viés exposto pelo meu comentarista anônimo.
Blefador, você existe porque um ábavo seu matou à traição, ao invés de duelar abertamente.

sábado, 18 de outubro de 2008

AZUL AZUL

Depois de cinco dias de chuva, vento frio e muito cinza sobre os olhos, eis um sábado azul, como desejei ontem. Se não me engano, foi o escritor português Ramalho Ortigão que atribuiu uma cor a cada dia da semana. O sábado seria azul. Para mim, o sábado é azul. Interessante como as nuvens realçam ainda mais esse belíssimo quadro natural, dando-lhe profundidade e movimento.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

SEXTA-FEIRA, 17 OUT 2008

Qual é brasileiro, LINDEMBERG ou LINDBERGH? Um foi o primeiro piloto a fazer um vôo solitário sobre o Atlântico sem escala em avião; outro foi o seqüestrador que manteve a ex-namorada como refém por quatro dias. Uma dica: o brasileiro é o seqüestrador.
oo
Tudo no centro do país conspira para fazer o Palmeiras (ou o São Paulo) campeão do Brasileirão 2008. Na mídia, isso é paixão. Na justiça desportiva, uma injustiça. A vítima da vez é o Grêmio.
oo
Fui à ExpoSantiago nessa tarde. Bonitos estandes, principalmente os ocupados pelas empresas moveleiras de Santiago. Os animais de raça e os carros de marca ficaram isolados pela lama outra vez. O negócio foi sujar os sapatos.
oo
Em conversa com Luciano Faturi, expositor, chegamos à conclusão que a feira deveria ser bianual. Questão de ritmo (para não dizer que é de economia).
oo
Há pouco, ao passear pela nossa blogosfera, fui surpreendido com o retorno de dois dos melhores blogueiros: Júlio Prates e Vívian Dias. Fiquei feliz com as suas campanhias. A despeito de não segurarmos a mesma bandeira político-partidária, admiro o Júlio como um dos maiores intelectuais da nossa cidade.
oo
Finalmente, concluí o prefácio do livro da Lise Fank: Poetemas. Sua publicação não demora, para a alegria dos santiaguenses que participamos de uma grande interlocução poética.
oo
Por falar em poesia, ando sem inspiração nestes dias, nenhum insight, nenhuma epifania. Até que tentei hoje:
oo
não sou apenas
o que pareço
há um mundo
para dentro
oo
mas não saí desses versos (se é que posso denominá-los assim). Quem sabe, amanhã, quando o sol dourar a manhã... quando o azul será sábado...!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

TROFÉU "CAIO FERNANDO ABREU"



Ontem, por ocasião da abertura do Santiago Encena, foi entregue o troféu "Caio Fernando Abreu". Os agraciados deste ano foram os seguintes: Arlindo Disconzi (Cultura); Ivo Pauli (Educação); e Oracy Dornelles (Literatura). O conjunto da obra, certamente, foi o critério que mais pesou na escolha dos nomes acima. Todos merecedores dessa distinção oficial. Para o próximo ano, deixo como sugestão o período a ser considerado: o ano que se inicia neste outubro e se encerra em outubro de 2009. Sem mudar o critério, obviamente.

domingo, 12 de outubro de 2008

PRIMAVERA

Na casa do meu pai, ainda florescem as espécies que a mãe plantou. A outra vez que estive lá, uma camélia se encontrava carregada de flores. Desta vez, a planta acima, vulgarmente chamada de Primavera. Não existe perfume mais agradável ao olfato do que o exalado por essas flores silvestres. Desde menino, gostava de caminhar na mata, aspirando o perfume da Primavera nas manhãs de outubro. O quadro se completava com o gorjeio colorido dos pássaros e o rumorejar macio do Rosário, deslizando por entre as pedras.

MOTIVO GENÉTICO






Entre as ovelhas do meu pai, no Rincão dos Machado, a da foto produziu dois borreguinhos pretos. A pergunta é: qual a cor da lã do carneiro que contribuiu com 50% dos caracteres genéticos na produção desses espécimes? A resposta é óbvia: preta.


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

NOBEL DE LITERATURA


A Academia Sueca concedeu hoje o Nobel de Literatura de 2008 aos francês JEAN-MARIE GUSTAVE LE CLÉZIO, classificado como um "autor de novos rumos, da aventura poética e do êxtase sensual" e "explorador da humanidade dentro e fora da civilização dominante". Le Clézio é autor de cerca de 50 obras (romances, ensaios e literatura infantil), entre as quais se destacam: Deserto; Estrela Errante; O Processo de Adão Pollo; Diogo & Frida; Índio Branco; e O Caçador de Tesouros (todos traduzidos para o português).

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

o louco


o louco
atravessava noites
a inventariar
silêncios

oo
depois percorria
as ruas
com os olhos campeadores
de lonjuras

oo
as crianças
repetiam
seu discurso:

oo
matem os passarinhos
matem
os passarinhos

oo
num banco
da praça
fez cama de agosto

oo
sem a alma
de estorvo
dormiu o profundo
sono

A HISTÓRIA DA ESCRITA/LEITURA

A história da escrita/leitura pode ser dividida em três eras (facilmente reconhecíveis): do manuscrito, do impresso e da informática. Não apenas o suporte e a interface são considerados nessa divisão, mas também o hipertexto* (que não é uma novidade da Rede Mundial de Computadores).
* Hipertexto, definido por Marcuschi, constitui uma forma de "organização cognitiva e referencial", cuja principal característica é a não linearidade na construção textual. Num livro, por exemplo, há números sobre-escritos, ou asteriscos remetendo a uma nota de roda-pé, a um glossário no final. O texto lido necessita de outro texto, uma palavra de outra palavra, um livro de outro livro, numa teia que se amplia indefinidamente. No âmbito digital, esse "descentramento" ocorre com inserção de um link, por exemplo.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

EM DEFESA DOS SELVAGENS

Um renomado jornalista da Globo assim conclui seu comentário sobre a adulteração da gasolina nos postos brasileiros: “A selvageria vai tomando lugar da civilização”. Anotei essa “pérola” discursiva na minha caderneta de bolso, pensando em transcrevê-la mais tarde (como o faço agora). A mídia e o senso comum compartilham do complexo egolátrico, incrustado na crença de que a civilização é sinônimo de um estágio avançadíssimo da evolução humana. Não me custa repetir que essa crença tem raízes na metafísica e nos dogmas cristãos, justificada como essência espiritual. A civilização coincidiria com a tomada de consciência da relação homem–deus. Para compreender os atos violentos, erroneamente classificados de bárbaros ou selvagens, avalia um artigo interessante, deve-se começar pelo preconceito esquizo-paranóide, que separa eu=bom=amigo do outro=mau=inimigo. Em estados anteriores, prossigo inquiridor, praticava-se a pedofilia? Praticava-se o incesto? Comumente, ouve-se sobre um pai que estupra a própria filha, de um pai ou de uma mãe que cometem filicídio, que tal violência constitui uma selvageria, uma barbárie (remetendo a estágios primitivos, de domínio dos instintos). Leituras de História Natural me autorizam a dizer que nossos ancestrais, sejam caçadores ou agrícolas, não matavam com a hediondez que a civilização é capaz de segregar no espírito do(s) assassino(s). Noutros tempos, a vida e a morte se cercavam de significações mítico-religiosas, totens e tabus que as protegiam contra o desvalor, a banalização. Não é a primeira vez que saio em defesa dos selvagens e dos bárbaros. Por mais broncos que fossem os antepassados humanos, não estupravam e tampouco matavam seus próprios filhos.
oo
O quadro acima, Guernica, foi pintado por Pablo Picasso, o maior gênio da pintura do século XX. Para mim, Guernica pode ser uma das representações pictóricas de nossa civilização.

domingo, 5 de outubro de 2008

ELEIÇÃO EM SANTIAGO

Há pouco saiu o resultado final da apuração em Santiago.
JÚLIO RUIVO: oo15.596
VULMAR LEITE: o7.516
SANDRO PALMA: 5.040
JÚLIO PRATES: ooo694
Nas minhas previsões (não postadas aqui por uma questão ética), acertei que o Ruivo seria eleito facilmente, que o Vulmar ganharia do Sandro (contrariando as pesquisas), que o Prates não faria 700 votos. Quase acertei a previsão de que a diferença entre Ruivo e Vulmar seria os votos do Sandro Palma. Um erro pequeno se comparado com o do próprio Sandro, candidato do PTB, que me assegurou vencer a eleição com uma diferença de 112 votos.
Para a Câmara de Vereadores:
MARCOS PEIXOTO (2.516); MIGUEL BIANCHINI (2.198); DAVI VERNIER (2.058); CLÁUDIO CARDOSO (1.738); PELÉ (1.414); NELSON ABREU (1.059); ARLINDO ALVES DA SILVA (997); DINIZ COGO (928); MARA REBELO (859); e PEDRO BASSIN (700).
Da relação acima, as surpresas foram Arlindo Alves da Silva e Pedro Bassin.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O PODER DA BLOGOSFERA

Os blogueiros detonaram com a campanha de John Kerry, candidato democrata à presidência dos Estados Unidos em 2004. A mídia tradicional os apoiaria no ataque contra a veracidade das aventuras contadas por Kerry, de que passara a véspera do Natal de 1968 dentro do Camboja (quando era combatente no Vietnã). Com o apoio dos veteranos da Swift Boat, o discurso do candidato foi desmascarado como uma mentira.
Lendo os blogs de Santiago há pouco, percebo que se configura um estado de quase terrorismo em nossa região, praticado por certos cidadãos que merecem perder seus direitos de cidadania, uma vez que agiram como criminosos. Furto e difamação são crimes. O primeiro foi filmado por uma câmera do circuito de segurança da rodoviária de Santo Ângelo. As imagens são claras e revelam dois dos três furtadores. A difamação contra um dos candidatos a prefeito de Santiago e contra uma adolescente partiu de uma denúncia anônima, provavelmente de um dos "laranjas" que ajudou a espalhar o boato ignominioso.
Qual a possibilidade de os dois crimes revelarem a mesma autoria?
Sim ou não, sou obrigado a discordar do psiquiatra Thomas Szasz, que dizia ser os criminosos inteligentes. Os que se deixaram filmar na rodoviária de Santo Ângelo com a mão na combuca, digo, no jornal Correio Regional de Santiago, são deslavadamente burros.
Quem será responsabilizado pela ofensa contra a honra da adolescente difamada? O Estado?
Leiam os blogs do João Lemes: http://jlemes.blogspot.com/ e do Márcio Brasil: http://marciobrasil7.blogspot.com/

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

PENSADORES DO NOSSO TEMPO

JAMES LOVELOCK
A Terra é um ser vivo. Contrariamente à idéia concebida há séculos, são os seres vivos que produzem a atmosfera e não o inverso. Não é o meio ambiente que teria possibilitado a aparição e o desenvolvimento da vida; são os seres vivos que secretam os gases que lhes permitem perpetuar-se. A biosfera tem a capacidade de controlar seu meio ambiente natural, químico e físico. Para conhecer melhor Lovelock: As eras de Gaia.
oo
CARL SAGAN


O Big Bang é uma evidência. Não é uma teoria, entre outras, sobre a criação do Universo; constitui a única teoria, antes só existiam hipóteses metafísicas. Muito provavelmente, estima Sagan, o Universo tem uma história de alternâncias entre expansões e contrações, uma história cíclica. Há duas provas: 1) o Universo se expande, as estrelas afastam-se umas das outras, o que infere um ponto de partida comum entre elas; 2) o físico Arno Penzias registrou, em 1962, ondas radiantes nascidas do "ruído" do Big Bang. Para conhecer Sagan: Cosmos e O mundo assombrado pelos demônios.
oo
STEPHEN JAY GOULD

A evolução é uma ciência exata, não uma teoria. Darwin, afirma Gould, é o único dos grandes cientistas do século XIX que não foi varrido pelos progressos científicos do século XX. Cada espécie nova é selecionada unicamente por sua capacidade de adaptação, e de maneira alguma porque é "boa" ou "superior". A evolução darwiniana não tem finalidade moral. A idéia do homem no topo da cadeia evolutiva é absurda, não tem nada a ver com os mecanismos do mundo natural. Para conhecer Gould: O polegar do panda e O sorriso do flamingo.

oo

DESMOND MORRIS

O "homo sapiens" continua sendo um animal. Na sua vida social, na sua vida sexual, nos seus hábitos alimentares, nas suas crenças religiosas, o homem ainda segue as regras estabelecidas há milênios pelos macacos caçadores, dos quais é uma variedade singularmente vitoriosa na sua luta pela sobrevivência. Trata-se de um animal com enormes qualidades vocais, agudo sentido de exploração e grande tendência a procriar. Ele orgulha-se de possuir o maior cérebro dentre os primatas, mas tenta esconder que tem igualmente o maior pênis. Para conhecer Morris: O macaco nu.

ALDOUS HUXLEY

A guerra é um fenômeno puramente humano. Os animais inferiores lutam em duelo no auge da excitação sexual, matam para comer e, ocasionalmente, por outro motivo. Alguns insetos gregários saem em formação, para atacar membros de outras espécies. O homem é o único que organiza o massacre de seus semelhantes. A guerra atua como negação evolutiva, eliminando os jovens e fortes, poupando os fracos e enfermos. Todos os caminhos em busca de uma sociedade melhor são bloqueados, mais cedo ou mais tarde, pela guerra, ameaças de guerra, preparativos para a guerra. Para conhecer Huxley: O despertar do mundo novo e A situação humana.
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ISAIAH BERLIN

As idéias falsas governam a História. As ideologias transformam os homens em vítimas ou em escravos para o bem das gerações futuras. Embora falsas, elas não obedecem a nenhuma necessidade histórica, só exprimem as preocupações de determinados indivíduos. Marx e Disraeli, nesse sentido, são exemplares. Ambos são judeus, mas se recusam a sê-lo; inventam para si famílias, raízes de substituição. Para Marx, será o Proletariado; para Disraeli, a Aristocracia. As ideologias fazem o papel da reflexão para as massas sem cultura. Todo sistema é uma prisão, inclusive o liberalismo. Para conhecer Isaiah Berlin: Limites da utopia.o

J. KRISHNAMURTI

Que é religião? Em regra, consideramos como religião uma série de doutrinas, tradições, o que diz o Upanishads, o Gita, a Bíblia. O que chamamos religião é a oração, ritual, dogma, desejo de encontrar Deus, aceitação da autoridade e de um vasto número de superstições, não é exato? Embora professem o amor, a fraternidade etc., toda religião está de fato separando o homem do homem. Vós sois sikhi e eu hinduísta, sois muçulmanos e eu cristão, aquele católico e aquele outro protestante. O verdadeiro espírito religioso advém da completa libertação de todas as religiões. Para conhecer Krishnamurti: A mutação interior, A educação e o significado da vida, Liberte-se do passado...

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THOMAS SZASZ

Os criminosos são mais inteligentes que nós. Eles não são mais executados, são tratados. Por que se procura a doença mental por trás de cada crime? Seria por humanidade? Exatamente o contrário! - responde Szasz. Se reconhecemos que um homem é capaz de cometer um crime hediondo, calculado, depravado, é que a natureza humana pode perfeitamente ser má. Ora, tudo o que desejamos é que a natureza humana seja boa. Não queremos admitir que o livre-arbítrio possa conduzir ao crime. Logo, o crime não deve ser o resultado do livre-arbítrio, mas da doença mental. Até o século XVIII, o mal era interpretado como uma possessão do Diabo. Hoje o mal é necessariamente o signo de uma desordem genética e química. Na realidade, a maioria dos criminosos é normal, e mesmo bastante inteligente para executar crimes extremamente complexos. Para conhecer Szasz: O mito da doença mental.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

CANTARES


lençóis tecidos
oooooooode sonho
protegem
oooode madrugada
o trigo que
ooooooiamadurece
no ventre
oooifértil da amada

00

meus dedos
ooooo(vento macio)
desenham
ooooiondas na flava
lavoura destes
oooooooooicantares
onde é vazia
oooooooooa palavra
oo