domingo, 14 de setembro de 2008

A RAIZ DO PAMPA

A última vez que o Caio Abreu veio a Santiago, minha irmã era do Departamento de Literatura do Centro Cultural. Ela estava na coordenação do evento que trouxe o escritor a Santiago em 1995. A "Galeria dos Escritores" da nossa casa de cultura, penso, necessita de uma atualização. Amanhã tratarei desse assunto com a professora Enadir Vielmo, presidente do Centro Cultural.
Desde 1980, quando a D. Renita Andretta me emprestou O ovo apunhalado, me apaixonei pela literatura do Caio. Nesse livro estão seus melhores contos, mais surrealisticamente poéticos, mais cortazianos, mais Caio Abreu. Ainda não li dele Onde andará Dulce Veiga?, apesar de ter esse romance na minha estante.
No ano que passou, ganhei o troféu "Caio Fernando Abreu" pelo destaque em Literatura. No momento de receber a distinção, recitei o conto Nos poços (imitando Márcio Brasil).
Relendo a carta A raiz do pampa, que o Caio escreveu em dezembro de 1995, justamente sobre sua viagem a Santiago, destaco certas incoerências que, não fosse de um grande escritor, detonaria com o texto. Por favor, leitor, analisemos as seguintes passagens:
(...) açudes transparentes refletindo fiapos de nuvens do céu absolutamente azul (...)
Principalmente em dezembro, sabemos que não há açude transparente no Rio Grande do Sul, ainda que reflita o céu (que, com fiapos de nuvens , não é "absolutamente azul"). A água dos açudes gaúchos, sabemos todos, tem a coloração marrom como da foto acima.
(...) Rio Grande do Sul abaixo.
Para quem sai de Porto Alegre, a 10 metros do nível do mar, dirigindo-se ao interior, não pode ser "abaixo", mas "acima" (para os mais de 400 metros de Santiago). Esse "abaixo" pode ser interpretado como contendo uma significação cultural.
(...) e quase sem seres humanos além de um ou outro tropeiro (...)
Admitamos, não são freqüentes os tropeiros ao longo de nossas rodovias, principalmente depois do advento do caminhão boiadeiro. No Mato Grosso, por exemplo, eles continuam sendo encontrados nestes dias. Mas no Rio Grande do Sul...
Certamente, o Caio quis dar a essa carta uma conotação literária, a começar pelo título.

Um comentário:

Márcio Brasil disse...

Bem observado, Froilan. Já tinha me antenado da questão dos açudes e até comentei sobre isso outro dia. Os açudes daqui são barrentos mesmos.

Creio que o Caio quis dar uma conotação poética, de fato, ao texto. Contagiando o leitor com a sua concepção artística do nossos pagos.

Forte abraço