domingo, 3 de agosto de 2008

O FIM DE UMA UTOPIA

Pontes são lançadas entre a realidade e o ideal, provisórias, sustentadas pelo otimismo e esperança dos idealistas. Essas construções “virtuais”, no entanto, não resistem a qualquer travessia, uma vez que são demasiado longas, demasiado frágeis. O homo religiosus, por exemplo, acredita numa ponte que o conduzirá desta vida para outra, paradisíaca, eterna. Seguidamente, ele a vê em seus sonhos de transcendência. Menos extraordinárias, todos lançam pontes em seu dia-a-dia, entre um problema e sua solução. No âmbito público, essa inclinação caracteriza o homo politicus. No final dos anos oitenta, com o processo que derrubou um presidente, começou a ser engendrada uma ponte para o país. Seus idealizadores haviam escolhido uma estrela como símbolo. Aos poucos, o PT se transformava na ponte que tiraria o Brasil da crise. Até os realistas mais céticos achavam possível uma mudança significativa, mesmo por intermédio de pontes ideológicas. A primeira delas pretendia conduzir uma parcela dos brasileiros à “fome zero”. As demais seriam lançadas a partir da primeira travessia. Muita publicidade em torno da campanha, malas de dinheiro. Em vão, a ponte despencou (corrompida por novas falcatruas). De repente, as pontes passaram a ser impossíveis, pois o poder se encontrava outra vez incapaz de sustentá-las eticamente. Foram-se o otimismo e a esperança – valores que não têm equivalência na moeda corrente. A realidade permanece com os grandes problemas que a caracterizam. O fim de uma utopia é o mais recente.

Nenhum comentário: