sexta-feira, 11 de julho de 2008

LANÇAMENTO DE LIVRO


Ontem fui ao lançamento de Dias de sol e vento, do Cácio Machado da Silva (foto). Mais do que um compromisso (na condição de Diretor do Departamento de Literatura do Centro Cultural), foi um prazer participar do acontecimento. O livro do Cácio é de poesia (que tenho definido como a quintessência da expressão verbal). Protocolarmente, fiz a seguinte locução:
ooo
O mundo tornou-se mais e mais racionalizado, movido por avançadas tecnologias. Era inevitável que se tornasse mais materialista, cujo modo de existência predominante é o TER. Todavia, ainda subsiste a essência afetiva do homem – por intermédio da fé, da moral, do amor, da arte...
O SER, capaz de admiração e encantamento, continua mais vivo do que nunca, sob a pele de aparência do real. Nesse modo, a imaginação, por exemplo, tem status de verdade. Por isso, a Ilíada de Homero é mais importante do que a guerra troiana. No dizer de Will Durant, historiador e filósofo norte-americano, “sete Tróias jazem soterradas enquanto Helena é um imortal sinônimo de beleza”, pura criação do poeta.
A poesia é a manifestação do espírito, ao mesmo tempo, criador e contemplativo. Poder que funda o tempo mítico, por intermédio da palavra, e descreve as estrelas, os pássaros, as flores, tudo o que existe como parte do nosso universo interior.
Por falar em pássaro, Carlos Nejar escreve que “a arte da poesia é a arte do vôo. E as palavras no texto precisam flutuar mais leves do que a densidade do ar”. A poesia se faz com palavras que sonham em busca de sentido.
Ao contrário da República de Platão, que não admitia poetas, Santiago constitui-se já num lugar privilegiado por esses “encantadores de imagens e palavras”. Juntando-se a Manuel do Carmo, Aureliano de Figueiredo Pinto, Zeca Blau, Sílvio Duncan, Antônio Carlos Machado, Oracy Dornelles, novos nomes surgem no horizonte de eventos da nossa terra.
CÁCIO MACHADO DA SILVA, a partir de hoje, faz por merecer um lugar entre os nossos poetas. À semelhança dos demais, também telúrico, como o prova este seu livro de estréia: DIAS DE SOL E VENTO.
Um aspecto chama logo a atenção em seus poemas: a oralidade, que caracteriza a poesia de um Mário Quintana, por exemplo, aproximando o texto literário da fala cotidiana.
O livro traz a classificação “prosa e verso” (subscrita ao título). Com propriedade. Após a revolução estética modernista, os gêneros se (amalg)amam sem problema algum. O mesmo ocorrendo com o uso da linguagem, ainda dividida pelos dicionaristas em “universal” e “regional”. O autor canta sua aldeia com um vocabulário crioulo (galpão, coxilha, saleiro, xucro) e canta os temas mais recorrentes do mundo sem fronteiras, com um lirismo enxuto de verborragia. Exemplo disso é:
oo
FRATER
oo
No escuro
ooooooodo breu
da grande pirâmide,
tateamos eternamente,
atrás
ooooda visão
oooooodo grande olho.

Buscamos saber
ooooooooooque ser
ooooooooooosomos
no claro.
oo
Alguns poetas amadurecem tardiamente, por isso seus primeiros frutos já trazem a outonal doçura que desperta a fruição do leitor.
DIAS DE SOL E VENTO revela um poeta maduro, na forma e no conteúdo. A partir de hoje, esse filho santiaguense se soma à plêiade que justifica o nobre epíteto dado a Santiago –
Terra dos Poetas.

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