quarta-feira, 9 de julho de 2008

CARLOS NEJAR (AOS PROFESSORES DE LITERATURA)

Carlos Nejar é o maior poeta vivo da Língua Portuguesa, embora não usufrua de mesma popularidade experimentada por um Drummond, um Bandeira, um Quintana, entre outros. Nenhum mereceu tamanha atenção da crítica (nacional e estrangeira). A poesia nejariana é, sem cotejamento, a mais vasta e profunda, feita de metáforas puras e de um amálgama lírico, épico e dramático. Como prova disso, o poeta-pensador também se aventurou na prosa a partir de 1991. Seus romances confirmam a própria tese expressa em História da Literatura Brasileira, lançado na última Feira do Livro de Porto Alegre. Nesse livro, Nejar escreve:
O ponto axial da criação contemporânea tem sido gerado por dois preconceitos. O primeiro, o da verossimilhança. O segundo, o dos gêneros em relação à linguagem e vice-versa. A verossimilhança na ficção ou na poesia não passa do fingimento pessoano. Ou entramos dentro da mágica da invenção, ou não temos esperança. A lógica está centrada na mágica e essa é a única verossimilhança admissível. “No amor que tiverdes, / tereis o entendimento dos meus versos.” (Camões) E tal lógica é a do amor que conflui noutra dimensão da realidade, como a dos sonhos e pesadelos. Ou a própria realidade rebenta do que é mágico. “Nada é mais inverossímil do que o real”, dizia Graciliano Ramos e, antes dele, Camilo Castelo Branco. “A palavra é a sombra do ato”, vislumbrou Demócrito. Contudo, a palavra vai além, já é o ato. Um ato cercado de sentidos. Para sermos reais, temos de morrer da razão, para nascermos imaginando. [...] Quanto aos gêneros, jamais se negou ou se negará sua existência. O poema há de ser o poema; o romance, romance; o conto, conto; o teatro, teatro; a crônica, crônica; o ensaio, ensaio. Mas em qualquer um deles, é a linguagem que determinará os gêneros, não os gêneros, a linguagem. [...] E no romance – trato do brasileiro – em exame tem um problema que é “o equilíbrio entre veritas e a realitas (Otto Maria Carpeaux). E entre o excesso de realidade e o de fabulação, desequilibrou-se pela carência de pensamento. No entanto se move com o novo romance, que se eleva na linguagem, exigindo a arte de fabular no real e a arte de ser verdadeiro no pensamento. [...] Assim, o romance ou poema, o teatro, o ensaio, a história vivem da linguagem, não dos gêneros que os designam. É relâmpago que apenas se clareia na escrita. [...] A literatura não só é “o despertar dos mágicos”, é o despertar, aos poucos, também do que continuará sonhando. Inexistindo equilíbrio humano sem literatura. Porque lida com a imaginação.
Como crítico, quem fez tal análise do que seja literatura? Para entendê-la, certamente, muitos dos nossos professores terão sérias dificuldades. Poucos sabem que Nejar é também um prosador originalíssimo. Publicou Um certo Jacques Netan, O túnel perfeito, Carta aos loucos, Riopampa: o moinho das tribulações, O selo da agonia: livro dos cavalos, Livro do peregrino, O evangelho segundo o vento, A engenhosa Letícia do Pontal, O poço dos milagres, Era um vento muito branco, Zão, O grande vento, A chama é um fogo úmido, Escritos com a chuva e com a pedra e Caderno de fogo.

oo
(O livro História da Literatura Brasileira me foi presenteado pelo autor, que é amigo do Dr. Valdir Pinto.)

O autógrafo: "Para o poeta Froilam Oliveira, com o abraço pampeano e amigo do Carlos Nejar. PA - 28.11.2007"

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