segunda-feira, 30 de junho de 2008

A GRANDE DESCOBERTA

Nicolau Copérnico, monge polonês, foi o primeiro a provar matematicamente que o Sol se encontra no centro do sistema, com a Terra e os demais planetas girando em torno dele. Em 1543, ano da publicação de De Revolutionibus Orbium Coelestium, a humanidade ainda acreditava piamente que a Terra era o centro do mundo, o próprio mundo. O Sol apenas a iluminava e a aquecia. As demais estrelas foram colocadas no céu pelo Criador para a poética contemplação dos homens. De repente, a verdade acusa essa crença antropocêntrica – em sendo a Terra o centro do mundo, o homem se considerava o centro da criação divina. A Igreja Católica pregava o geocentrismo, metendo na fogueira quem a denegasse filosófica ou cientificamente. Copérnico não foi queimado porque morreu no mesmo ano da publicação de seu livro. Giordano Bruno não teve essa sorte, e Galileu se retratou perante o tribunal inquisitório para não ser condenado. A descoberta copernicana pode ser colocada entre as três mais importantes já realizadas pelo intelecto humano. Seu efeito (borboleta): Deus, que fora colocado num trono de nuvens, acabou sendo afastado para o fundo do espaço sem limites; o homem passou a se virar sozinho; e a igreja perdeu boa parte do terrível poder que exercia desde a Idade Média. Outras descobertas se seguiram, como a gravidade, de Isaac Newton, a relatividade, de Albert Einstein, a expansão do universo, de Edwin Hublle, e tantas outras. Todavia, ainda há pessoas que acusam a inutilidade do conhecimento.

domingo, 29 de junho de 2008

NOVO BLOG

CRIS ATELIÊ é o mais novo blog de Santiago. Foi criado por Cristina de Oliveira Cardoso para expor suas pinturas. Ela cursa Letras na ULBRA. Temos gostos e genes em comum.

MARIO BENEDETTI


LUNA CONGELADA
OO

Con esta soledad
alevosa
tranquila

oo
con esta soledad
de sagradas goteras
de lejanos aullidos
de monstruoso silencio
de recuerdos al firme
de luna congelada
de noche para otros
de ojos bien abiertos

oo
con esta soledad
inservible
vacía

oo
se puede algunas veces
entender
el amor

(Contra los puentes levadizos)

sexta-feira, 27 de junho de 2008

PRIMEIRA ANTOLOGIA DOS BLOGS DE SANTIAGO

oo
ooodúbio
ooooooo
pesada saudade
iiileve o vento
olíquida ponte
ooodo olho
oooà boca
ooooido
ooopensa
oiiiimento

oo
oooooooooooooooErilaine Perez
oo
oo
poeminha
oo
uma pipa
eleva cores
ao céu
oo
arco-íris
de papel
oo
oooooooooooooooooFátima Friedriczewski
oo
oo
quase's
oo
quase sem palavras
oooooooooooooooopenso
quase sem destino
oooooooooooooooovivo
quase sobre

oooooooooo nada
oooooooooooooooolanço
um olhar

ooooooocomtempl
ooooooooooooooooativo
oo
oooooooooooRebeca Sasso (com a minha orientação)
oo
oo
Feitiço
oo
Não há como sentir teu perfume,

escutar a tua voz
ou me embriagar com teu sorriso
sem sentir a doçura de teus lábios,
o furor do teu hálito
nem desvendar tuas nuances obscuras...
Te quero pronta
proposta e madura
como uma fruta doce ao alcance da mão
pendente do pé.
Quero tua textura,
tua inflexão
tua magia e imaginação...
Porque que o teu feitiço,
ah! teu feitiço...
esse eu já bem conheço
pois que sou dele cativo!
oo
ooooooooooooooooMarcos Fiorenza
oo
oo
silêncio
oo
eu queria um minuto do silêncio

que ronda as noites inacabadas,
passos que marcam a estrada,
vida de quem anda sem rumo.
oo
Silêncios que nascem nos céus,
percorrem nuvens de estrelas
e se perdem pelo caminho.
oo
Silêncios de alguém
que também está sozinho.
oo
ooooooooooooooooLígia Rosso
oo
oo
(continua...)

RETRATO INÉDITO

Em 1980, bordei o retrato acima. Materiais usados: pano de algodão, agulha, linha vermelha (em vários tons). Idison Bandeira conserva-o em sua sala. Outros retratos de Jesus Cristo fiz sobre tábua de cinamomo (com pirógrafo), sobre papel (com nanquim), sobre tela (com tinta óleo), sobre isopor (com guache). Os melhores ficaram com uma colega que não mais a reencontrei, de nome Lenize, e com uma prima que mora em Viamão. Ainda não entendo por que representava apenas o rosto do profeta, sem o restante (pescoço, ombros, tronco...).

VEJA A MIM

Ontem escrevi um e-mail para a redação da revista VEJA, informando-a do erro em O espetáculo do Hubble: "Dessa vez, mostrou-se imagem da fusão de duas galáxias, que teve início há 500 bilhões de anos e gerou bilhões de estrelas" (conforme postagem abaixo). Como resposta, recebi hoje:
oo
Prezado leitor,
Agradecemos as valiosas observações enviadas à redação de VEJA.
Ao contrário do que informou a reportagem especial “Um olhar sobre o início de tudo” (25 de junho), a distância percorrida pela luz em um ano seria suficiente para dar 240 milhões de voltas na Terra, e não 240 000 voltas. O planeta Gliese 581 c encontra-se fora do sistema solar, e não da Via Láctea. As galáxias começaram a se chocar há 500 milhões de anos, e não bilhões como está escrito.
Faremos as devidas correções na próxima edição.
oo
Atenciosamente,
oo
Redação/Revista VEJA (
www.veja.com.br)
E-mail:
veja@abril.com.br
Avenida Nações Unidas, nº 7221, 19º andar, Pinheiros
São Paulo, SP, Brasil, CEP 05422-970

quinta-feira, 26 de junho de 2008

VEJA - O EQUÍVOCO

Antes de saber que existia uma ciência chamada Cosmologia, já admirava as estrelas e me interrogava sobre o espaço escuro que as separa. O interesse que tenho em saber sobre o Universo é tão grande quanto minha paixão pela Pintura, pela Literatura, pela Filosofia, pela Psicanálise, pela Antropologia... Comprei a última Veja* para ler sua reportagem especial: Big Bang. São 58 páginas (incluindo os anúncios) com as seguintes matérias: Do nascimento do Universo aos dias de hoje; Como ocorreu o Big Bang; O grande experimento (sobre o acelerador de partículas, LHC); A “partícula de Deus” (sobre a procura do bóson de Higgs); Ordem de grandeza (do minúsculo quark aos aglomerados de galáxias); O surgimento da vida; Estaremos sós?; A expansão continua; Como tudo vai acabar; O gênio em ação (Einstein e as idéias que revolucionaram a ciência); Como funciona o cosmo; Os mitos de origem; Retrospectiva VEJA 40 anos; Entrevista (com George Smoot, o prêmio Nobel que encontram provas do Big Bang). No tópico O espetáculo do Hubble, página 128, lê-se “Dessa vez, mostrou-se a imagem da fusão de duas galáxias, que teve início há 500 bilhões de anos e gerou bilhões de novas estrelas”. A revista se equivoca nos “500 bilhões”, idade que antecederia em dezenas de vezes ao Big Bang. Penso que se trata de erro de digitação, a despeito de o senso comum (classe em que se classificariam os editores da revista) sempre apresenta uma dificuldade para compreender tempo e espaço. Outro dia, li que a extinção dos dinossauros ocorreu há 65 bilhões de anos. Quando se trata da distânica entre estrelas ou galáxias, calculada em anos-luzes, a maioria continua euclidiana.
* Edição 2066 – ano 41 – nº 25, de 25 de junho de 2008.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

O FOGO DAS PALAVRAS

Minhas orelhas ficam sangüíneas e quentes, sem que as tivesse tocado com os dedos, bebido vinho, ou coisa que o valha. Diante do espelho, deparo-me com estas conchas auditivas avermelhadas, da mesma cor do blusão que visto agora. Os mais idosos dizem que alguém fala mal de mim neste exato momento. Recuso-me a considerar tal crendice (que remonta a um tempo mítico, quando os homens conviviam com espíritos, deuses e demônios). Nos primeiros meses deste ano, a artrose me provocou muitas dores, aos poucos minoradas com o longo tratamento a base de glucosamina e condroitina (sulfato). Num dia, a dor se localizava no joelho esquerdo; noutro, na articulação coxo-femoral direita; depois, saltava para um dos ombros. No trabalho, um dos meus colegas teve o despautério de me falar em vudu, um bonequinho para ser alfinetado. Alguém o faria (juntando a um objeto que me pertence), colocaria nele meu nome e o furaria ao bel-prazer de sua maldade. Coisa entre bruxaria e espiritismo de quinta (ou dos quintos?). As fogueiras da Inquisição não foram suficientes para exterminar as criaturas desprezíveis que praticam esse mal, elas existem e encontram-se mais próximas do que desconfiam suas pretensas vítimas. A artrose limita meus movimentos e me causa dores, mas vudu nenhum será capaz de me atingir. Prefiro acreditar em deuses bons a demônios. Para combater a superstição e toda forma de ocultismo, disponho do fogo das palavras.

terça-feira, 24 de junho de 2008

COINCIDÊNCIA

Hoje, enquanto se realizava uma palestra sobre segurança pública no Centro Empresarial de Santiago, a filial das Farmácias Fronteiras (da rua Sete de Setembro) era roubada. Disse-me alguém que participava do encontro que o exemplo de insegurança não poderia ser mais ilustrativo.

A SEGUNDA REVELAÇÃO

Mais um lançamento de livro em Santiago: A segunda revelação, do escritor e capitão do Exército Carlos Giovani Delevati Pasini. O evento ocorreu hoje, entre as 19 e 20 horas, no Colégio Medianeira (sala de aula da UNOPAR). Pelo número de células dramáticas, A segunda revelação se caracteriza como um romance, cujo enredo se funda na revelação de que Jesus Cristo nascerá outra vez entre os homens - no Brasil.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A CARA DA CIDADE


Essa foto foi tirada por mim do décimo andar do edifício Dom Nilton. O motivo que me leva a publicá-la não é dos mais nobres, no sentido ufanístico. Coerente com uma das características deste blog, de fazer o contraponto, chamo a atenção para um detalhe ainda não trazido à baila: nossa cidade é muito feia vista de cima. Principalmente com relação aos telhados velhos, quebrados ou enferrujados, os quais servem como área de descarte de coisas diversas. Isso é visível nas quadras centrais, num flagrante constraste com as fachadas de casas e edifícios que as circundam. A beleza que vemos no plano da rua, do colorido e iluminado calçadão, não passa de aparência. Já sabemos que por baixo, subterraneamente, toda cidade é podre, insuportável. Santiago não é diferente. Por trás das casas e edifícios, a feiúra é indescritível (também pode ser vista e inferida de cima). Ainda bem que, ao nível dos olhos, a cara da nossa cidade é bonita, bastante representada pelas lojas. Pergunto se tal aspecto não encontra paralelo na compleixão física e psicológica dos santiaguenses.

domingo, 22 de junho de 2008

COMENTÁRIOS

Juremir Machado da Silva escreve hoje em sua coluna do Correio do Povo que é contra o frio. Pela primeira vez, ele não me convence. Ele prefere o verão, embora o calor mate centenas de pessoas na França a cada ano. Não entendi seu arrazoado, como dizer que "a violência do Rio de Janeiro fica menos perigosa". Já defendi o inverno por diversas ocasiões, inclusive dentro da própria estação. À semelhança do grande colunista, também sou um homem resolvido. Todavia, gostar do frio está entre minhas convicções.
OO
A maioria das pessoas não têm convicção, são bipolares: no inverno, reclamam do frio; no verão, reclamam do calor. Bipolares e hedonistas incorrigíveis.
oo
Independentemente do escolhido para concorrer à prefeitura pelo PP, há meses venho comentando isto: não apenas será eleito, como fará seu vice prefeito em 2012.
oo
Concordo com João Lemes (em sua postagem de ontem): "A união entre os líderes do PP é um exemplo a ser seguido pela desolada, desarticulada e desacreditada oposição que busca um candidato tampão a qualquer custo, após a desistência de Accácio e de Vulmar Leite". Não irá encontrar este ano, pela tibiez de uns e o narcisimo de outros (líderes).
oo
Ainda não consegui ver a reportagem que a Record News fez com o Oracy Dornelles, apresentada no último dia 20 pelo jornalista Marcos Hummel. Após clicar "assista os vídeos", fica "carregando" e nada.
00
Outro colunista do Correio, Dom Dadeus Grings, escreve um excelente artigo de opinião: Condição dos idosos. Transcrevo o primeiro parágrafo para que saibam que não exagero na avaliação crítica. A situação dos idosos constitui o termômetro do humanismo de uma sociedade, bem como o barômetro das ideologias vigentes. A multiplicação dos asilos não é certamente índice de bom atendimento a idosos nem de valorização da vida humana. Mesmo os benefícios, que se procuram conceder às pessoas de idade mais avançada, como passe livre nos ônibus, precedência nas filas, lugares reservados nas conduções públicas etc., não podem ser considerados humanização da sociedade (concordo inteiramente). Ao contrário: são indícios de que estão abandonados a seus cuidados... As leis criadas para beneficiar os idosos também denunciam a sociedade a que pertencem (geralmente, transgressora de valores humanos).
00
No Pentateuco, está escrito: "não matarás", "não furtarás"... Essas leis mosaicas continuam válidas até hoje. Não há moral mais antiga e mais verdadeira. No Pentateuco, também está escrito: "Não te deitarás com varão, como se fosse mulher [é abominação]".

FIGURAÇÃO


Kandinsky e Mabe figurativos.

O CAMINHO DO MEIO


Mabe insere o figurativo no quadro acima. Pedi para a Cristina evoluir nesse sentido. Ela terá que exercitar o desenho necessariamente.

KANDINSKY - MABE


Kandinsky e Mabe, respectivamente. Ambos transitaram entre o figurativo e o abstrato.

sábado, 21 de junho de 2008

NOVA ARTISTA



Uma nova artista surge em Santiago: Cristina de Oliveira Cardoso. Acima, suas últimas telas, para que os leitores deste blog não considerem minha avaliação um exagero. Ela começou a pintar há menos de um ano, com uma paixão que não a afastará da arte muito cedo. O abstracionismo é uma tendência que leva o artista a mergulhar diretamente na essência da própria arte: a cor. A expressão se desenvolveu no início do século XX, como parte de uma grande revolução estética de libertação dos cânones formais. Wassily Kandinski, pintor russo, foi um dos maiores abstracionistas. No Brasil, o primeiro nome que me vem à memória é o de Manabu Mabe. Os quadro da Cris mesclam lirismo e geometria.

FRASE DO DIA(Z)


O HOMEM INVENTOU A RETA PARA CORTAR DISTÂNCIAS

(Até Einstein afirmar que o Universo é curvo)

sexta-feira, 20 de junho de 2008

TELENOVELA

na hora
da novela
tudo pára
no país
tudo tela
para ver
o galã
a belatriz
cara
a cara
vida vadia
vergonha
avara
.........






oo
oo
tudo pára
ver
a tele
novela
o
(esboço para um poema,
obviamente não concluído)

O VERDADEIRO INIMIGO


Muitos ainda se assombram com a possibilidade de uma guerra nuclear, como a principal ameaça à existência da humanidade. Sou pessimista, não acredito nos homens, mas penso que não usarão arma nuclear doravante. O motivo é simples: há uma ameaça maior. Eles terão algo mais importante a fazer (do que permitir livre vazão de seus instintos belicosos). Para debelar o novo perigo, forçosamente, a humanidade deixará de ser um ideal, irrealizável desde o princípio pelo narcisismo tribal (do clã aos estados modernos). Todos se unirão, independentemente de nacionalidade, cultura, economia etc., para integrar um bloco unido e coerente com o hiperônimo “humano”. O grande guru da ecologia, James Lovelock, chega ao extremo de dizer que “Nem mesmo uma guerra nuclear traria o nível de devastação mundial” que o próximo “inimigo” causará a nossa espécie. A tragicidade do destino humano está em se saber que, para "florescer" a mais avançada das civilizações (e quiçá a última), os homens também fazem tudo para que ela sucumba de uma forma catastrófica - contribuindo significativamente para o aquecimento do planeta.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

MEIO AMBIENTE


Há 12 anos, trabalho na formação de motoristas militares no 19º Grupo de Artilharia de Campanha. Inicialmente, a maioria dos jovens incorporava ao Exército ainda sem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), o que exigia da gente (instrutores e monitores) um esforço muito grande. Alguns instruendos, não obstante, apresentavam sérias dificuldades para a qualificação até o final do curso. Outros, no entanto, destacavam-se desde as primeiras aulas e, ao serem dispensados do serviço ativo, conseguiam ótimos empregos. Dois desses profissionais, por exemplo, pertencem à empresa Planalto, transportando passageiros de Santiago a Porto Alegre (e vice-versa). Com as mudanças provocadas pelo Código de Trânsito Brasileiro, fomos obrigados a uma melhor adequação às novas leis, incluindo viaturas adaptadas com freio duplo e instrutor credenciado pelo Detran. Dessa forma, vivemos um período de transição, em que optávamos por aqueles soldados que já possuíam CNH, adaptando-os às viaturas militares tão somente. Agora dispomos de instrutores e viaturas modificadas para a formação de motorista, dentro da legalidade instituída pelo CTB. Entre as instruções que cabe a mim, penso que a de Meio Ambiente se constitui numa das mais importantes. Ainda na manhã de hoje, ministrei uma aula sobre essa disciplina. Auxiliado por um data show, comentei slides utilizados pelas auto escolas. Por minha conta, projetei a imagem do planeta Terra (editada acima), perguntando o que era, o que representavam as cores verde, azul, branca e preta, o que há de estranho no quadro, qual a relação do degelo com a emissão de gás carbônico (dióxido). Apontei para o contorno do continente gelado, para uma faixa menos branca, onde fica evidente a ação do aquecimento global. Com ironia, fiz um longo comentário sobre a proposta assinada pelo Protocolo de Kioto, a qual não será atendida até 2012. A China e a Índia, por exemplo, desenvolvem-se a olhos vistos e uma das marcas desse desenvolvimento é a indústria de automóvel. Para cada riquixá, já proibido naqueles países, um automóvel passará a queimar derivados de petróleo, processo químico que traz maior mobilidade aos homens (numa corrida que os levará ao próprio fim). Mesmo que dirija com motores bem regulados, todo motorista é um poluidor por excelência, mas ignoram isso, fingem não saber.

OFICINA POÉTICA

O Orkut é um sistema de interação social filiado ao Google, em que cada usuário da rede dispõe de uma página online. O número de orkuteiros cresceu tanto que acabou formando “comunidades”, grupos que se identificam, às vezes, por um detalhe inimaginavelmente banal. Em torno da poesia, por exemplo, algumas dessas comunidades revelam o gosto pela arte da palavra e o desejo de partilhar seus textos, de estrear no mundo da produção escrita. Na semana passada, criei a comunidade Oficina poética, objetivando atrair novos poetas que queiram conhecer melhor os elementos característicos da poesia. O iniciante sempre parte do senso comum, o qual toma o verso como uma frase que termina antes do final da linha, rimado necessariamente com outro (dentro da estrofe). Toda a importância que ele atribui à rima, no entanto, não corresponde ao seu conhecimento lexical reduzido, forçando-o a rimar pauperrimamente. Dessa forma, uma das condições básicas para sua evolução é preenchida com a leitura dos grandes poetas e uma interminável pesquisa metalingüística (cuja melhor fonte é o dicionário). O tópico com que abro o fórum de discussões, Poetas que leio, visa saber de cada membro da comunidade como anda a leitura e releitura dos grandes poetas. Em seguida, passaremos ao estudo do poema, gênero textual que amalgama forma e conteúdo. Versos, estrofes, ritmos, rimas, figuras (aliteração, prosopopéia, metáfora etc.), tudo será esmiuçado em http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=56448753

quarta-feira, 18 de junho de 2008

UMA CARICATURA

O Sidnei Garcia assim me desenhou para a festa de 15 anos do Expresso Ilustrado. Fui colocado à esquerda da escada que sobe para o salão principal do Clube União, ao lado de outros colunistas. O caricaturista soube representar dois aspectos que caracterizam este menino: o sorriso claro, é claro, e o preclaro relacionamento com os livros.

terça-feira, 17 de junho de 2008

PAISAGEM NOTURNA II

A Lua mais alta, sem nuvens no céu, cliquei outra vez (exatamente três horas depois). Essa foto à noite constitui um contraponto.

PAISAGEM NOTURNA


A Praça Moisés Viana, bem iluminada artificialmente, recebe um acréscimo de luminosidade nesta noite fria: a Lua vence as delgadíssimas nuvens e esparge respingos de prata sobre o monumento à santa, sobre as árvores, sobre meus cabelos...

RIMA RICA E RIMA POBRE

São dois os modos de conceituar rima rica e rima pobre: o primeiro critério é gramatical; o segundo, fônico. De acordo com o critério gramatical, a rima pobre ocorre entre palavras pertencentes à mesma categoria gramatical (dois substantivos, dois adjetivos, dois verbos etc.). E a rima rica se dá entre termos pertencentes a diferentes categorias gramaticais. Para ilustrar, um quarteto de Gregório de Matos, do soneto “À instabilidade das cousas do mundo”:
oo
Nasce o Sol e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas, a alegria.
oo
Comparando os termos que rimam, segundo o critério gramatical, percebemos que dia e alegria apresentam rima pobre, por pertencerem à mesma categoria gramatical (substantivos), enquanto que escura (adjetivo) e formosura (substantivo) têm rima rica, pela diferença de categoria gramatical.
Pelo critério fônico, a rima é pobre ou rica conforme a extensão dos sons que se assemelham. Na rima pobre, igualam-se as letras a partir da vogal tônica. Na rima rica, a identificação começa antes da vogal tônica. Classifiquemos as rimas no quarteto inicial de “Um beijo”, de Olavo Bilac, pelo critério fônico:
ooo
Foste o melhor beijo da minha vida,ooo(A)
Ou talvez o pior... Glória e tormento,oo(B)
Contigo à luz subi do firmamento,oooo (B)
Contigo fui pela infernal descida.ooooo(A)
oo
As rimas “A” são pobres, pois as palavras “vIDA” e “descIDA” só se identificam a partir da vogal tônica; as rimas “B” são ricas, pois a igualdade de sons entre as palavras que rimam já se inicia antes da vogal tônica: “firmaMENTO” e “torMENTO”. Neste último caso, o “e” é a vogal tônica; e desde o “m”, consoante de apoio do “e”, já se dá a identificação.

(VERSOS, SONS, RITMOS – Norma Goldstein)

segunda-feira, 16 de junho de 2008

UMA GATA APENAS

Nika é a gata da Maria (minha irmã). O bicho foi trazido da Vila Branca, onde continuava a morar na casa tapera, para o décimo primeiro andar do Dom Nilton. Ao contrário da minha amiga Fátima Friedrichewiski, não gosto muito desses animais ronronantes. Reconheço, todavia, que a Nika é até fotogênica.


AGRIPPINO GRIECO


A manhã de sábado, quando faz azul, me convida para dar uma caminhada no Centro. Tudo é mais claro e mais alegre sábado pela manhã (quando faz azul). As vitrinas do Calçadão e da Rua dos Poetas são bonitas armadilhas para "pegar" os consumistas com dinheiro e bom gosto. Vale a pena admirá-las de passagem. Menos na livraria do Tide, onde reservo alguns minutos para dar uma olhadinha nos livros. Mais importante são as pessoas amigas que cumprimento (também fazendo o passeio matinal). O Oracy é uma delas, até parece que marcamos encontro. No último sábado (manhã inteiramente azul), o poeta trazia dois livros consigo para me oferecer como presente. "Esse Grieco é notável, meu mestre", ele me confessou mais tarde por e-mail. Tratava-se de Vivos e mortos e Evolução da poesia brasileira. Ainda não lera Grieco, apenas Otto Maria Carpeaux e Afrânio Coutinho. Pelo primeiro ensaio, sobre Castro Alves, posso adiantar que lerei com prazer a obra completa desse crítico literário. Muito obrigado, Oracy!

domingo, 15 de junho de 2008

DETALHE TEMÁTICO



Essa placa é mais um detalhe que enriquece tematicamente a Rua dos Poetas, colocada na esquina com a Getúlio Vargas (1ª quadra do Calçadão). Uma pena são os fios da rede elétrica (postes e lâmpadas), sempre enfeando as fotos urbanas. Para eliminá-los, o close abaixo.


sexta-feira, 13 de junho de 2008

AUTORIA DUVIDOSA

Muitos textos que leio por aí, tidos como de Shakespeare, Charles Chaplin, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, entre outros, não passam de "blefes" (embuste recomendado pelos manuais de blefadores em Filosofia, Literatura etc., para engambelar aqueles que não sabem). Por falar em Shakespeare, sua história mais conhecida, Romeu e Julieta, consiste num plágio extraordinário de Ovídio, que nasceu na Itália em 43 a. C. Esse poeta latino escreveu Metamorfoses, onde narra a triste história de Príamo e Tisbe (já transcrita neste blog). Clarice Lispector transforma-se em poeta no ambiente da rede. Neste caso, penso que não se trata de blefe, mas de burrice. Seu poema "Dá-me a tua mão", por exemplo, não passa de uma nova disposição feita do início de um capítulo do romance A paixão segundo G. H. (Editora Rocco, 1998, p. 98). A narrativa é disposta em versos com a simples mudança de linha. Eis o excerto original de Lispector:
Dá-me a tua mão:
Vamos agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naqueilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia, por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha do mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.
ooo
Como ficou:
Dá-me a tua mão
oo
Vamos agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
oo
De como entrei
naqueilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.
oo
Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia, por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha do mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.
oo
Do romance (mais correto seria classificá-lo de novela), gosto muito desta parte:
Eu tenho à medida que designo - e este é o esplendor de se ter uma linguagem. Mas eu tenho muito mais à medida que não consigo designar. A realidade é a matéria-prima, a linguagem é o modo como vou buscá-la - e como não acho. Mas é do buscar e não doa char que nasce o que eu não conhecia, e que instantaneamente reconheço. A linguagem é o meu esforço humano. Por destino tenhjo que ir buscar e por destino volto com as mãos vazias. Mas - volto com o indizível. O indizível só me poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem.
oo
Segundo o site Jornal de Poesia, o autor da brincadeira é um tal padre Antônio Damázio. Eu poderia imitá-lo nessa arte, bastaria abrir Mar morto, de Jorge Amado, por exemplo, e mandar brasa. O romance Iracema, de José de Alencar, então, permitiria manter certo ritmo:
Verdes mares bravios
da minha terra natal
onde canta a jandaia
nas frondes da carnaúba
verdes mares que brilhais
como líquida esmeralda
aos raios do sol nascente...
oo
José de Alencar, Jorge Amado e Clarice Lispector não escreveram em versos, foram prosadores por excelência.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

ILHA DE LESBOS

Safo, uma poeta grega do século VII a. C., nasceu na ilha de Lesbos. Agora os habitantes insulares querem se atribuir o adjetivo que os caracteriza apenas para o sexo feminino. As mulheres continuariam a ser designadas de "lésbicas", mas os "lésbicos" não (que se manifestam para mudar esse gentílico).

ASILO DE SANTIAGO

Sexta-feira passada, antes de ir à feira, fizemos uma visita ao asilo Santa Isabel. O administrador é um homem atencioso, preocupado com a saúde e o bem-estar dos internos. As instalações continuam sendo melhoradas, com área externa coberta, corredores fechados, refeitório com pintura e piso novos... Em 1973, morei muito próximo da entidade, fazendo amizade com a família de antigos administradores e com alguns idosos. Mais tarde, como universitário, fui várias vezes levar chocolate e música para a alegria daquelas pessoas. O Edgar Marcon tocava violão, cantávamos e dançávamos. Segundo o administrador, a ocupação está completa, com 60 ocupantes. Em trinta e poucos anos, o número de internos triplicou. Assegurei-lhe que as instalações precisam ser ampliadas, uma vez que a população de idosos aumentará significativamente. Impossível não pensar na vida, na velhice, ao visitar um asilo. Sejamos solidários, carinhosos com os mais velhos!

OFICINA POÉTICA

Para visualizar a página da comunidade 'OFICINA POÉTICA', acesse: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=56448753

terça-feira, 10 de junho de 2008

DESTINO


ooooooooum cão
oooooooocom olhos
ooooooooamarelos
oooooooob(r)aba
oooooooofome
oooooooonão vê
ooooooooo que morde
ooooooooo que come
00
ooooooooooooometáfora
ooooooooooooodo destino
oooooooooooooque segue
oooooooooooooo homem
oooooooooooooque não come
oooooooooooooo que morde
oooooooooooooe não morde
oooooooooooooo que come

PÁGINAS IMPOSSÍVEIS (CAPA)

Eis a capa do novo livro do Oracy Dornelles. Uma primeira observação é a coerência que o poeta mantém com a própria produção estética, sempre imprimindo um traço que o caracteriza por excelência. O desenho sobre o fundo branco, mais do que um poema não-verbal, constitui auto-referência, intertextualidade. Baixando os olhos, uma segunda observação recai sobre o título. Ainda que vertido numa linguagem referencial (páginas), obrigatória no registro historiográfico, abre-se à polissemia (impossíveis), que identifica o signo poético. Demais, ora se é.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

LEVÍTICO OU AS NOVAS LEIS?

Não entendo muito do método dialéctico, mas ele me parece indispensável para resolver certas contradições (teses versus antíteses) que dominam as pessoas nestes dias. Quando ouço falar em "culto ecumênico", com uma naturalidade de quem está fazendo uma grande coisa, penso que será ali professado apenas dois dogmas: ressurreição e reencarnação. Como isso será possível? Não sei. Num culto ecumênico, ressurreição e reencarnação não são contraditórias. O máximo de síntese que se consegue é o reconhecimento de que as duas são verdadeiras. Outra contradição é constituída entre as leis de Moisés (ainda em vigor para judeus e cristãos) e as novas leis que asseguram a livre expressão sexual, por exemplo. Em Levítico está escrito, capítulo 18, versículo 22: Não te deitarás com varão, como se fosse mulher; é abominação. E no versículo 29: Pois qualquer que cometer alguma dessas abominações, sim, aqueles que as cometerem serão extirpados do seu povo. Os milênios se sucederam e o ato homossexual deixou de ser uma abominação? O não roubar e o não matar (para citar apenas duas das leis mosaicas mais conhecidas) ainda continuam válidas depois de três milênios. Ou a Bíblia está ultrapassada, considerando-se apenas sua moralidade, e as novas leis estão certas, ou...

OFICINA POÉTICA

Hoje criei uma comunidade no Orkut: OFICINA POÉTICA. O principal objetivo é auxiliar meus contemporâneos da Terra dos Poetas a evoluir na arte ou ofício de escrever. Não apenas aos santiaguenses, mas a todos os que, porventura, tomarem conhecimento desta oficina. No espaço destinado ao "fórum", pretendo associar cada tópico a uma lição necessária ao fazer poético.

domingo, 8 de junho de 2008

LUDWIG WITTGENSTEIN

Comprei o nº 9 da revista Mente - Cérebro & FILOSOFIA - Fundamentos para a compreensão contemporânea da psique.
As investigações filosóficas inovaram a filosofia da linguagem, a epistemologia e a psicologia filosófica, apontando novos caminhos para o pensamento contemporâneo.
WITTGENSTEIN
RUSSEL (há muito sou leitor desse filósofo)
SELLARS
Jogo de linguagem e psicologia filosófica.
"A regularidade de nossa linguagem impregna nossa vida" Wittgenstein.

PÁGINAS IMPOSSÍVEIS

O Oracy Dornelles lançará outro livro: Páginas Impossíveis traz 65 crônicas históricas sobre Santiago e santiaguenses, 20 fotos antigas e 5 poemas morfológicos. Meu amigo também apresenta essa inclinação historiográfica, já demonstrada na revista A Hora. Local de lançamento: Centro Cultural de Santiago. A data será definida em breve. Aguardemos o novo livro!

DO NICK AO NOME

O chat é um dos gêneros digitais mais populares, vastamente empregado nas diversas salas, onde dois ou mais interlocutores interagem “simultaneamente em relação síncrona” (nas palavras de Luiz Carlos Marcuschi).
Ao entrar na sala desejada, o usuário escolhe um nickname (um apelido), uma cor e uma careta para se identificar. Ninguém conversa, todos teclam (tc). Entre as ferramentas, uma possibilita tc com todos ou reservado, com um dos participantes.
O anonimato, que em qualquer outro ambiente de interação comunicativa é condenado (vetado pelo Art. 5, da Constituição), na sala de bate-papo, ele não só é permitido como constitui o fator mais importante. Permite que pessoas superem as dificuldades para o contato, seja por timidez, narcisismo secundário ou quaisquer outros problemas de personalidade. Por outro lado, protege a identidade de quem tecla.
O aspecto da nova forma lingüística que passa a caracteriza esse gênero mereceria um estudo, tão oportuno nestes anos germinais, que revolucionam a comunicação com as novas tecnologias. A linguagem revela a psicologia de quem a utiliza para um fim, isso é válido para os desenhos rupestres aos diálogos online (uma distância que não tem toda a extensão imaginada pelo senso comum).
O chat inicia-se sempre com o convite “vamos tc?”, “a fim de tc?” (às vezes, sem o ponto de interrogação), entre outras formas já padronizadas para o jogo que consiste em identificar o outro. Muitos diálogos terminam nas primeiras enunciações, outros se estendem mais um pouco, no entanto, pouquíssimos chegam a lançar a ponte de alteridade, quando, finalmente, ocorre a identificação dos sujeitos (até então ocultos pelo nickname). Esses estágios são facilmente percebidos pelas trocas que ocorrem no ambiente não-reservado, aberto a todos.
Outro estudo interessante consistiria em analisar se há uma estrutura recorrente entre o início do jogo e o final, quando a identidade do outro é conhecida. Do nick ao nome, qual o discurso desvelador?

sexta-feira, 6 de junho de 2008

UM DESERTOR

As Forças Armadas estão em 4º lugar na credibilidade dos brasileiros, perdendo apenas para a família, Correios e Bombeiros (empatados) e Ciência e Tecnologia. Esse dado é indispensável, quando a mídia, políticos e o senso comum (condicionado pelo sensacionalismo) querem distorcer o motivo da prisão do sargento Laci Marinho de Araújo. Verdadeiros "brucutus" aproveitam-se do fato para demonstrar uma sensibilidade que lhes é completamente inadequada, ao sair em defesa do Sgt de Araújo. Fingem ignorar que a deserção é um crime tipificado no CPM (Código Penal Militar), Art. 187: Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias. O surto emocional do sargento em rede nacional (com o comentário patético da apresentadora Luciana Gimenez) não o absolve da deserção.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

UMA GRANDE AMIZADE

Desde que me conheci por gente, passei a admirar o Oracy Dornelles. Nossa amizade nasceu a partir do primeiro encontro em 1983. De todas as suas facetas artísticas, para mim basta a poética (que o torna um dos melhores da literatura contemporânea).

RASGO DE LITERARIEDADE

Os livros do Márcio Brasil e do Antônio Manoel Gomes Palmeiro, lançados quarta-feira pelo Projeto Santiago do Boqueirão, seus poetas quem são?, contos e crônicas, respectivamente, trazem textos já publicados no Expresso Ilustrado. Nada contra. García Márquez, por exemplo, publicou dois volumes de Textos do Caribe, antologia pessoal de artigos e crônicas que escreveu para os jornais da Colômbia.
A constatação que faço é de que, semanalmente, o Expresso publica esses autores e nunca ouvi nem li qualquer comentário de que o nosso jornal tem qualidades literárias também. Em meio a tantos gêneros jornalísticos, um rasgo de literariedade.

POR QUE LEMOS TÃO POUCO?

(Publicado na revista Nova Escola)
OO
Segundo a Câmara Brasileira o Livro (CBL), cada brasileiro lê pouco mais de dois livros por ano. Na Inglaterra, estima-se que a média seja de 4,9; nos Estados Unidos, é de 5,1. Outro dado preocupante: por aqui, o tempo médio dedicado à leitura não passa de 5,5 horas por semana, enquanto na Índia – um país em desenvolvimento cuja situação econômica é semelhante à do Brasil – a média é quase o dobro, de dez horas semanais...
De acordo com diagnóstico do setor livreiro, divulgado pela Associação Nacional de Livrarias (ANL) no fim de 2007, o país contava com apenas 2.676 estabelecimentos dedicados à venda de livros. É pouco: uma livraria para cada grupo de aproximadamente 70,5 mil habitantes. Na vizinha Argentina, a relação é de uma para 50 mil pessoas...
Entre as ações capitaneadas pelo poder público, pela iniciativa privada e por entidades do terceiro setor – ONGs, institutos ou associações sem fins lucrativos –, destaca-se o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), um conjunto de projetos, programas, atividades e eventos implementados pelo governo federal... Também contribuem as badaladas feiras literárias espalhadas pelo Brasil, como a Flip (Feira Literária Internacional de Parati, no Rio de Janeiro), o Literato (Encontro Literário de Tocantins) e a Feira do Livro de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. (Feira ou Jornada?)...
Para Marisa Lajolo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, cada uma dessas iniciativas é extremamente importante. Contudo, é fundamental que as políticas de incentivo à leitura se descolem da mera organização de feiras ou da criação de bibliotecas e sala de leitura. O mais urgente, segundo ela, é investir em material humano, com a formação de mediadores de leitura, professores e bibliotecários capazes de semear o prazer da leitura...

CRÔNICA DA ERILAINE

OOOOOOADORMECIDA

ooooooSentada na calçada, tinha os pés nus. A lua escorria-lhe pelas costas como o olhar de um gato triste. Não havia outro tipo de iluminação naqueles caminhos, nem pessoas que pudessem perturbar seu mais solitário momento.
ooooooContemplativa, recriava de suas memórias dias de sol, dias felizes. Dias em que via as roupas balançarem nos varais levadas pelo vento, enquanto uma pandorga apontava lá no fim de um céu azul...
ooooooA casa cheirava a doce e pão. O amado, a cacau e mel.
ooooooFoi na mesma época em que o tempo começou a fugir pelas frestas do sonho, para construir ninho longe dali.
ooooooAmpulhetas pressurosas não costumam reter um só grão. Não seria diferente com ela. Dos filhos gerados pelo tempo, nenhum chamou-se Piedade.
ooooooResolvera caminhar para esquecer... Resolveu mudar seu rumo no caminho... O lar ficou distante do novo rumo.
ooooooO sol, que tingia a serrania, anoiteceu. Esqueceu de onde viera. O nome, nunca mais pronunciado, já não sabe.
ooooooOs olhos fitos no sem-fim das noites, procuram caminhos de volta... Mas os rastros foram também apagados nos becos remotos de sua consciência.
ooooooEla continua a olhar para os pés. Gostaria de ser como as árvores, gostaria de ter raízes...
ooooooVaga perdida em labirintos de espelhos trincados, obtusos como os contornos que neles se refletem.
ooooooNão há como escapar dessa prisão. Não há como superar a dor impressa a ferros em sua carne. Não há mais o calor do amor enchendo as faces de sangue. Apenas uma rosa brotando no peito, obstruindo-lhe a respiração.
ooooooPálida diante do silêncio nascido com a manhã, a mulher adormeceu.
oo
(Eis uma bela crônica de quem realmente sabe escrever)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

A LIÇÃO DE FLAUBERT

Antes de mais nada, os blogueiros devem buscar o diálogo, a interação, fazendo uso de uma ferramenta que caracteriza o hipertexto (por excelência).

De minha parte, transcrevo de Nívea Andres o excerto abaixo, extraído de sua última postagem:
"É incrível como as pessoas desprezam a arte de escrever e falar bem. Há pouco tempo, José Saramago disse, do alto de seu talento e experiência: 'Hoje existe uma espécie de menosprezo por esta coisa tão simples que antes era falar com propriedade. Quando eu era trabalhador, sempre tinha as ferramentas limpas e em bom estado. Não conheço uma ferramenta mais rica e capaz que o idioma. E isso significa que se deve ser elegante na dicção. Falar bem é um sinal de pensar bem'. Acrescento, ainda, que escrever bem é uma condição inarredável para a credibilidade, a liderança e o sucesso de qualquer profissional, seja político, médico, jornalista, advogado, engenheiro, matemático ou professor de Português."
oo
Há dias venho querendo citar o trabalho da escrita pelo exemplo mais importante da história da Literatura: Gustave Flaubert. Lendo um ensaio de Roland Barthes e, nesta data, encorajado pela blogueira acima citada, resolvi fazer uma crítica (da maneira que estou aprendendo com Oracy Dornelles).

O que escreve Barthes em O grau zero da escrita?
"Bem antes de Flaubert, o escritor sentiu - e exprimiu - o duro trabalho do estilo, a fadiga das correções incessantes, a triste necessidade de horários desmedidos para chegar a um rendimento ínfimo. Entretanto, em Flaubert, a dimensão dessa labuta é muito maior; o trabalho do estilo nesse autor é um sofrimento indizível (ainda que ele o diga muitas vezes), quase expiatório, para o qual ele não reconhece qualquer compensação de ordem mágica (quer dizer, aleatória), como podia ser para muitos outros escritores o sentimento da inspiração: o estilo, para Flaubert, é a dor absoluta, a dor infinita, a dor inútil. A redação é desmedidamente lenta ('quatro páginas durante a semana', 'cinco dias para uma página', 'dois dias para a pesquisa de duas linhas')... Escrever e pensar fazem uma só coisa, a escrita é um ser total."
O autor de Madame Bovary confessa:
"Só se chega ao estilo mediante um labor atroz, com uma insistência fanática e dedicada".
oo
Nossos escritores santiaguenses, independentemente da imaginação que possa ou não caracterizá-los, não estão dando atenção ao aprimoramento técnico do que é produzido. A impressão que fica é de que não reescrevem seus textos, não cortam, não acrescentam, não substituem... passos necessários para a constituição de um estilo.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

JOÃO PEDRO PERUFO

Nesta noite, o sr. João Pedro Perufo ocupou a tribuna da Câmara de Vereadores para falar sobre a Semana do Meio Ambiente. O presidente da Ong Nascentes referiu-se a dois aspectos da agressão propiciada pelo homem: a produção do lixo e o "envenenamento" da água. Seu discurso, premido pelo tempo, caracterizou-se pelo catastrofismo comum a todos os que se dedicam a estudar os problemas ambientais. Achei oportuno falar-lhe acerca do texto que escrevi hoje (postado abaixo).

UMA SIMPLES PELÍCULA


Editei numa postagem abaixo e na coluna do Expresso que sou provocado ao ouvir alguém falando mal das ciências, posto que seus conhecimentos não respondem certas perguntas que faz o senso comum. Quando respondem, muitas vezes acabam indo de encontro às crenças e aos preconceitos que vicejam no mundo todo. A moda é a ecologia, ditada pela grande mídia. Entre as questões ecológicas, sem dúvida, o cuidado com a água se inclui como uma das mais pertinentes do momento. O mau trato com esse líquido fundamental para a vida se deve, em grande parte, pelo condicionamento de um preconceito defendido por todos os livros didáticos, por todos os professores, pela mídia e por muitos ecologistas de plantão. O que sempre foi ensinado acerca da existência da água? Existe mais água do que terra em todo o planeta, numa proporção de quase três partes por uma. Tamanha quantidade de água sempre funcionou como uma reserva para todo desperdício e sujidade, usando-se os rios, lagos, mares e oceanos como transporte ou depósito do pior lixo produzido pelo homem. Há um enorme equívoco que precisa ser corrigido. Não é uma visão superficial (para não chamá-la de ilusão óptica) que deve fundamentar o dado correto, mas um corte vertical e em profundidade. Toda a água existente não passa de uma finíssima camada que preenche as depressões do planeta, de onde sobressaem as terras continentais. Abaixo dessa película doce ou salgada, tudo o mais é sólido, constituinte da crosta (que, por sua vez, flutua sobre outro estado da matéria). Dito de uma forma diferente, a quantidade de água é mensurável, finita, capaz de ser afetada pelas ações poluidoras do “progresso” humano. Com isso, não me limito ao estado de potabilidade da água, viés que denuncia um antropocentrismo nefasto, mas ao meio ambiente que ela representa, ao habitat natural para um número ainda incalculável de espécies.

domingo, 1 de junho de 2008

NOVA ERA

deus
perde
o "d"

eus
em luz
e fé(r)

Esse poema da página 81, ilustra uma das melhores sínteses que consegui: há uma tese que sustenta ser o movimento da nova era o afastamento de Deus e auto-suficiência do indivíduo, pleno de felicidade, de luz, numa fé narcisista (e lucífera). Tudo isso expresso em algumas letras.

PERCUSSÃO

o vento
a so
oooprar
o fio

o fio
a cort
oooooar
o vento

tenso
fio

lasso
vento

asso
vio


Como o poema acima, meu livro ponteiros de palavra é todo assim, síntese entre morfologia, som e semântica (corpo e alma da palavra).

EXPLICAÇÃO DE POESIA SEM NINGUÉM PEDIR


Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,

mas atravessa a noite,

a madrugada,

o dia,

atravessou minha vida,

virou só sentimento.

Desde que li esse poema de Adélia Prado, penso que muito conteúdo não necessita de muita forma algumas vezes.

COMENTÁRIO

Gustavo Humphreys comenta minha postagem abaixo.
Com certeza, concordo com sua tese a respeito das cotas, com ressalvas. Não concordo com esse sistema, pois leva a mais preconceito do que nunca. O que precisamos é de investimento maciço na educação fundamental para que todos, de qualquer etnia, possam concorrer de igual para igual às boas oportunidades. O que não concordo é em relação ao que nosso amigo escreveu dizendo: "Thafne é aluna do Colégio Militar de Curitiba e Eder, aluno de um colégio municipal de uma cidadezinha do Vale do Jequitinhonha. Privado versus público. Classes A e B versus C, D e E". O Colégio Militar de Curitiba não é privado, é mantido pelo Estado do Paraná depois de ser reaberto em 1994, após alguns anos de dificuldades financeiras do Exército Brasileiro em mantê-lo. Agora, é bem verdade que a classe da Thafne é privilegiada, contudo, o Eder concorreu de igual para igual, já que estudou e persistiu no que acredita. O que falta é vontade, nenhum aluno chega a algum lugar sem sacrifício. Eu sou branco e sempre estudei em escolas públicas e passei por várias dificuldades financeiras e preconceitos sociais, que acredito que seja mais forte, hoje em dia no Brasil. Felizmente, acredito que a realidade da educação no Brasil estará melhorando nos próximos anos se investirmos nas novas gerações maciçamente com boas idéias e educação. Sucesso a todos nós, brasileiros!
Com relação ao Colégio Militar de Curitiba, o comentário me levou a fazer uma correção. Não é privado, mas elitista, meritocrático, por excelência.

PONTES NECESSÁRIAS

Um jeito estranho de ser mar brota das nascentes do coração. Espelho de águas difusas, confunde paisagens com a aurora austral. Permafrost de amor, não degela quando muda a estação. Sobre esse terreno nada que se construa permanece sólido. Para a geologia, essa é uma verdade absoluta. Mas as histórias que nos são contadas desde a infância falam de um arco-íris ao final das chuvas. A ciência, mesmo distante das utopias, mostrou-nos a evolução das inteligências desde a construção de pontes. Acredito no amor e entendo que a natureza não manifesta suas obras de forma única em todos os homens. Alguns passarão suas vidas como sonhadores, idealizando uma humanidade pela qual não movem um dedo, e o amor será sempre uma ilusão magnífica, de face única, porque não desvelado. Outros, tomados pela racionalidade, compreenderão o homem dual, mistura de emoções. Calcularão os riscos, entendendo a existência de negativo e positivo em toda equação, e construirão pontes. Caminharão sobre o gelo.

(Gênero que amalgama prosa e poesia, referência factual e imagem, escrito por Erilaine Perez)