sexta-feira, 30 de maio de 2008

NOVOS POETAS DE SANTIAGO

Um dos ensaios de O grau zero da escrita, de Roland Barthes, Existe uma escrita poética?, trouxe a palavra que me faltava para uma análise dos novos poetas de Santiago, cujo fazer estético se limita a sobrepor versos heterométricos e pauperrimamente rimados em estrofes mais ou menos regulares. Há doze anos, leio todas as publicações que ocorrem amiúde na Terra dos Poetas (até como uma forma de justificação), não percebendo o avanço de qualidade na elaboração do gênero textual recorrente. Entre os neófitos, existem belas exceções. A Ana Paula Sangói começou romântica, imitando o grande Álvares de Azevedo (na escolha do léxico ou do tema). Após uma série de observações que lhe fiz por escrito, pedi que procurasse pelo Oracy Dornelles, que sabe muito da poesia clássica e da moderna. Hoje a Ana domina o alexandrino. Outra poeta que me chama a atenção é Erilaine Perez. Seus poemas são modernos por excelência, faltando um pequeno trabalho de reescritura para torná-los definitivos. Neles, a palavra já não é mais um elo relacional, diacrônico, usual no discurso prosaico, mas passa a ser quase independente, “um signo em pé”, “um furor e um mistério” (segundo Barthes). A maioria dos novos poetas, no entanto, desconhece a técnica da composição de um soneto, por exemplo, forma clássica que exige o conhecimento do metro. Desconhece, não quer aprender e tem ódio de quem sabe. Mas, contraditoriamente, não evolui para as modernas formas de expressão, ou de explosão. Seus poemas melhor se disporiam em prosa, uma vez que a mudança da linha e a rima paupérrima (geralmente com verbos no infinitivo) não são suficientes para justificar o grandioso epíteto de nossa cidade no âmbito estadual.

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