quarta-feira, 30 de abril de 2008

A QUARTA FRUSTRAÇÃO


Em certo momento de sua evolução, o homem passou a se achar o que há de mais importante. No auge desse delírio narcísico, chegou a criar um deus à sua imagem e semelhança, acreditando ter ocorrido o inverso. O que ele via em si mesmo precisava de uma origem divina. Até o ano de 1543, a crença colocava esse deus bem próximo, num “sólio de nuvens” (Will Durant), observando sua apoteótica criação. Um monge polonês, chamado Nicolau Copérnico, no entanto, haveria de provocar a primeira frustração humana: a Terra não é o centro do universo. Com isso, a relação homem-deus sofreria um distanciamento. Três séculos mais tarde, Charles Darwin elaboraria a mais revolucionária teoria científica de todos os tempos: a evolução natural. A partir de A origem das espécies, o homem viu-se reduzido a um animal em luta para a dominação do planeta. Ele, que até então descendia diretamente de um deus, frustrou-se pela segunda vez. A terceira frustração viria em pouco tempo, com a descoberta do inconsciente por Sigmund Freud. Depois de Darwin, restou ao homem gabar-se de sua racionalidade. Depois de Freud, o autoconhecimento revelaria quão frágil e instável é a razão. Minha tese é de que o estudo da Genética provocará a quarta frustração. Muito do que o todo orgulhoso EU ainda se atribui narcisisticamente (eu quero, eu posso, eu sou etc.), não passa de uma ilusão egocêntrica, apropriação do que já é codificado pelos genes. Não apenas a cor dos olhos, o formato do nariz e outras características hereditárias, mas tudo, tudo está inscrito no ADN, à maneira de um “como e para que funciona?”. O conhecimento disso, adianto, fará com que o homem não sobreviva à própria individualidade.

oo

(Leitor, caso tiveres dúvida acerca da autoria da idéia que defendo acima, digita no Google "a quarta frustração". Certamente, nada encontrarás que se assemelhe.)

2 comentários:

Anônimo disse...

O texto estava muito bom até o comentário do rodapé. Quanta vaidade, meu caro. Mas afinal, era esse o foco do texto, não?

Anônimo disse...

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