terça-feira, 8 de abril de 2008

PÉS DE BARRO

OOA História (com “H” maiúsculo) não ensina os homens que desejam aprender sobre política, sobre a maneira correta de governar, organizar, dirigir e administrar nações, estados, cidades, instituições etc. Tampouco os homens fazem história como aprendem, senão de uma forma arrevesada, inconsciente, à semelhança daqueles que não sabem. A História, na verdade, é tudo o que pode ser pensado, racionalizado e instituído como ciência a posteriori. Antes disso, há o caos da transformação presente, apressada de menos, demorada de mais, sempre tendo os homens, ou obrigatoriamente fixados como sujeitos, ou como objetos de ações significativas.
OOOOUma das lições de suma importância que os homens poderiam aprender com a História refere-se ao poder, mais especificamente ao poder que se institui politicamente em todas as ambitudes. Os estudos acerca de civilizações, impérios, reinos, países, províncias, cidades e agremiações diversas esclarecem que o poder é de uma instabilidade ziguezagueante entre o zero absoluto e o ponto que se projeta indefinido num determinado plano social. Quanto mais alto ou mais amplo (no âmbito da família, da associação de bairro, do partido, do Estado etc.), maior significa a queda. Os impérios ilustram melhor a regra. Eles desabaram por razões inerentes a sua própria grandeza, não sendo condicional o fator externo muitas vezes. O sonho de Nabucodonosor, com um gigante de ouro e pés de barro, constitui uma imagem sugestiva do que foram (e são) esses impérios. As “torres gêmeas”, em Nova York, tinham a altura e a arrogância do império que representavam. Por isso se transformaram num dos alvos escolhidos pelos terroristas, cuja “pedra” certeira causou uma pequena ferida nos pés de barro desse gigante norte-americano (que não escapará do desígnio histórico). A economia, que poderia ser vista como a “cabeça de ouro” no esplendor de seu desenvolvimento, paulatinamente se transforma na sustentação mais vulnerável desse poder. O inimigo, ou a causa da queda inexorável, encontra-se dentro da própria estrutura do poder.
OOOONos anos noventa, escrevi um artigo sobre o crescimento do Partido dos Trabalhadores no Brasil. Antes de Luís Inácio da Silva vencer a primeira eleição para presidente. O título era meio profético: A hidra autofágica. Em pleno segundo mandato do Presidente Lula, com perspectivas claras de eleger seu substituto, ainda é cedo para dizer que o PT ruma para o ângulo reentrante da linha em ziguezague do poder. O primeiro tentáculo autofágico, com o nome de mensalão, foi seccionado a quatro mãos, de comum acordo, sem heroísmos. Outros de menor estrutura sofreram o pronto combate. Atualmente, o vazamento de um dossiê de dentro da Casa Civil demonstra a coerência da minha metáfora. O pior de todos os tentáculos, o mais nefasto para o PT, nasce com um aspecto que afeta a sempre delicada e romântica democracia: o autoritarismo. Mesmo que Lula seja vitorioso em 2014, a autofagia é inevitável. O país não sofrerá com isso, uma vez que seu desenvolvimento não depende inteiramente dos homens que se alternam no poder.
OOOOUma das lições que a História ensinaria aos homens é de que o poder não pode ser exercido com arrogância. Cedo ou tarde, o gigante acaba desprotegendo seus pés de barro.
OO
(Texto escrito hoje para a revista A Hora)

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