segunda-feira, 31 de março de 2008

REGISTROS NECESSÁRIOS


A Academia Santa-Mariense de Letras sente-se honrada em convidá-lo(a) para a sessão solene de abertura das atividades do corrente ano, quando serão empossados os membros eleitos em dezembro de 2007 para a DIRETORIA que conduzirá a entidade no período de 2008-2010:
Lígia Militz da Costa - Presidente
Aristilda A. Rechia - Vice- Presidente
Máximo José Trevisan -Secretário Geral
Evandro Weigert Caldeira - Secretário
Celina Fleig Mayer - Tesoureira
Dinara Xavier da Paixão - Diretora do Patrimônio Documental
CONSELHO FISCAL:
Humberto Gabbi Zanatta
José Bicca Larré
Tânia Terezinha Lopes
Sua presença será de inestimável relevância para esse momento cultural.
Dia: 31 de março
HORA: 20h30
LOCAL: Sala nº3 do Itaimbé Palace Hotel
Rua Venâncio Aires, 2741 - Santa Maria
oo
Como membro correspondente, fui convidado para mais esse evento da ASL. Infelizmente, por motivo de saúde (dores nas costas), não pude ir a Santa Maria.
oo
oo
Depois de uma aula de Língua Portuguesa, fui à Câmara de Vereadores. As sessões começam a "esquentar" em ano de eleição municipal.
OO
oo
Um comentário anônimo (mais uma vez!) tenta me ridicularizar. Segundo o(a) contumaz desconhecido(a), minha postagem seria "infeliz", uma vez que a encerrava desta forma: Muitos de meus poemas remetem semioticamente a outros textos, em razão das leituras que faço de Astronomia, Psicanálise, Filosofia etc.

domingo, 30 de março de 2008

GOYA E MANET



Caso de intertextualidade na Pintura: Maya Desnuda, de Francisco de Goya, e Olympia, de Edouard Manet.

INTERTEXTUALIDADE

Um dos meus poemas selecionados pelo projeto do curso de Letras da URI, Santiago do Boqueirão, seus poetas quem são?, Narciso, exige o conhecimento da mitologia grega (diga-se de passagem, infinitamente mais interessante do que a hebraica, ou bíblica). Não bastasse a referência a Narciso e Eco, a intertextualidade ocorre com a alusão ao acontecimentos narrado por Ovídeo, envolvendo esses dois personagens.
ooo
liberto
do encantamento
agora grito
seu nome
por vales
montes
cidades
mas Eco
não me responde
oo
Narciso não morre no texto acima, sofre, talvez, um destino mais trágico: acorda de seu (auto-)encantamento e, em vão, procura por aquela que o amava. Se é possível fazer um paralelo entre o eu-lírico e o autor, diria que "acordei" depois dos quarenta e... Desnecessário dizer que ninguém consegue voltar ao passado.
OOO
Muitos de meus poemas remetem semioticamente a outros textos, em razão das leituras que faço de Astronomia, Psicanálise, Filosofia etc.

sábado, 29 de março de 2008

SÁBADO DIFERENTE


Hoje o sábado (a vírgula que separa o adjunto adverbial de tempo deslocado é facultativa, uma vez que o(s) termo(s) com essa função sintática possui apenas duas sílabas) está diferente. O vento do sul determina o fim do verão e me lembra que devo comprar um blusão de lã. O vento me faz mais romântico do que sou de uma forma estranha. Não é apenas pelo assobio que emite nas esquinas, pelo sussuro nas altas árvores, pela sensação de frescor que me envolve a fronte... O vento é arauto da nova estação, com novos ares, folhas ganhando o matiz amarelado e o fruto, pleno de doçura, caindo nas mãos delicadas da poesia.

sexta-feira, 28 de março de 2008

AUTOCRÍTICA

Minha coluna do Expresso Ilustrado de hoje, O câncer do planeta, necessita de um adendo, de um comentário. Primeiramente, justifico a escolha como um meio de fazer a crítica ao homem. Um dos meus objetivos é acusar a grandeza do homem (herança inegável da tradição judaico-cristã) como aparente, falsa, reveladora do antropomorfismo que Xenófanes criticava na Grécia pré-socrática. Retomar essa crítica é fundamental. Como sou homem, já represento uma pequeníssima parcela de autocrítica. O título da minha coluna é paradigmático. Todos vêem essa ou aquela cidade, pequena ou grande, como cartão-postal. Orgulham-se delas. Brigam por elas. Quem as representa como nódulos visíveis do câncer causado pelo homem sobre o frágil planeta (que só fortuitamente ofereceu condições para o surgimento da vida)? Quem?



quinta-feira, 27 de março de 2008

FRAQUEZA POLÍTICA

Em seu discurso no Senado, Cristovam Buarque faz uma autocrítica (coisa rara de acontecer). O senador fala que “a democracia se desmoraliza, em primeiro lugar, a partir do funcionamento do seu Parlamento... Essa aliança entre a nossa omissão e o excesso de medidas provisórias... essa confluência vai levar a um enfraquecimento não mais do Congresso, que já tem pouco para onde se enfraquecer, mas vai levar ao enfraquecimento da democracia”. O orador cita “um livro recente, que define a mente brasileira a partir de pesquisas feitas, mostra que, das instituições, a de menor credibilidade é o Congresso, depois dos partidos”. Os apartes vêm de representantes de outras siglas (PMDB, PT e PSDB), parabenizando o senador do PDT. Cansados dos ataques da mídia, dos intelectuais e dos cidadãos brasileiros, alguns políticos não se envergonham de fazer a autocrítica.
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Salvo melhor juízo, todo candidato ao primeiro cargo político de sua vida é cheio de boas intenções. Muitas promessas de campanha são irrealizáveis, não passam de pura idealização. A recorrência a elas é compreensível, não obstante: ainda encontram ouvidos que crêem na factibilidade das mesmas.
Por que os eleitos mudam no decurso do primeiro mandato? Por imposição do establishment, ou do partido a que pertencem? Por reconhecerem a abissal dificuldade de cumprir com o prometido? Por descobrirem que se ocultara, entre as boas intenções (dóceis ovelhinhas), uma que não era exatamente boa (lobo faminto)? Alguns se manifestam publicamente, confessando sua impotência para mudar uma conjuntura-problema. Esses merecem nosso aplauso, não o nosso voto outra vez.

terça-feira, 25 de março de 2008

DISCURSO DE CRISTOVAM BUARQUE

Para ler o discurso do senador Cristovam Buarque, proferido no dia de ontem, basta digitar www.cristovam.org.br

POLÍTICA, DISCURSO, TV E QUEJANDO

Na intenção de preencher as noites de segunda-feira, passei a freqüentar a Câmara de Vereadores de Santiago, onde assisto à sessão ordinária e reencontro velhos conhecidos. Ontem, enquanto ouvia os oradores, pensava na enorme diferença de poder que há entre o executivo e o legislativo. Caso fosse possível um percentual de participação no governo, arriscaria 99% para o primeiro e o restante para o segundo. Quanto ao poder judiciário, desconheço qual seria o número correspondente no âmbito municipal.
ooo
Ao retornar para casa, conectei meu televisor na TV Senado (um dos poucos canais ainda não atingido pela idiotice), onde discursava o senador Cristovam Buarque. Em seu discurso sobre a dengue, o político transformou a doença numa metáfora para a situação do país, incluindo doenças seculares (febre amarela e tuberculose), a desigualdade social, o trânsito caótico, a violência, a ameaça à democracia. Em sua (auto)crítica ao Senado, Cristovam Buarque falou da impotência da instituição legislativa diante do poder que exerce o presidente e seus ministros.
oooo
A posteriori, a reflexão que fizera na Câmara de Vereadores encontrou um argumento de autoridade que me obrigou a editar esta postagem.
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Respeitadas as proporções, Cristovam Buarque tem seu semelhante no legislativo santiaguense: Nélson Abreu. São os melhores oradores.
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Também ontem, perguntava-me sobre qual tema escrever para a próxima edição do Expresso. Certa pessoa me sugeriu que criticasse a idiotice na televisão brasileira. Dos 32 canais conectados pela antena parabólica, dois ou três se salvam (desculpe o trocadilho numérico). Lendo a coluna do Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo de hoje, destaco o seguinte:
“Eu adoro paradoxos. Às vezes, eles são óbvios. Não importa. Por exemplo, tem o paradoxo da TV. Está definido pelos maiores especialistas e pelo público: ou a televisão é idiota ou é chata. Não existe outra possibilidade... Até hoje, segundo eles, não se inventou um programa capaz de ser, ao mesmo tempo, inteligente e interessante...”. Discordo de Juremir neste ponto: ter incluído o público, uma vez que o próprio telespectador é (v)idiota, sem condiões de tal avaliação. À exceção de alguns programas da Globo, da TV Senado e TV Escola, pouco mais escapa à classificação de idiotice ou chatura.
ooo
Receoso de melindrar o leitor que não desgruda da tv, escrevi sobre outro assunto: o câncer do planeta (ler abaixo).

segunda-feira, 24 de março de 2008

O CÂNCER DO PLANETA


Uma reportagem feita na capital de Pernambuco alertava para o fato altamente comprometedor que consiste em perfurar poços artesianos dentro da área urbana. A falta de água potável em Recife, a “Veneza Brasileira”, vem aprofundando o “câncer” provocado pela ação humana sobre a frágil superfície de Gaia – o planeta vivo. As cidades se transformam em nódulos dessa doença degenerativa que, depois de atingir as moléculas vitais mais altas da atmosfera, mergulha no subsolo para levar sua venenosa podridão aos lençóis freáticos. No princípio, forçado pela necessidade de sobrevivência, o homem começou a degradar o solo (terra) com a prática da agricultura. Ao longo dos últimos milênios, num afã exploratório, ele centuplicou seu poder cancerizador. Futuramente, por uma questão de sobrevivência outra vez, esse animal racional (na concepção de filósofos e cientistas), ou “filho de Deus” (segundo teólogos, religiosos e senso comum), há de exaurir todos os recursos disponíveis. Poucos seres irracionais destroem o habitat a que pertencem, determinando a própria extinção. Nesse aspecto autofágico, o vírus ganha um concorrente de peso. Como alguém que se jacta de ser imagem e semelhança de um deus bondoso pôde sair tão diverso, mau em sua essência? Com a terra, o ar e a água poluídos, resta o último elemento (dos quatro descritos pelo pré-socrático Empédocles): o fogo. Entretanto, este não será maculado pelos humanos, protegido sob a crosta terrestre e, bastante longe daqui, nas estrelas. Ao contrário, a humanidade (nome que superexalta holisticamente nossa espécie de natureza zoológica) poderá ser purificada por ele. Não de uma forma mítica, como o narrado na Bíblia, mas real.

sexta-feira, 21 de março de 2008

ESTRANHA COMBINAÇÃO

Estranha combinação entre cozinha e poesia! O leitor poderá dizer que meu blog mistura alhos com bugalhos. Apesar desta página se caracterizar pela variedade de gêneros, como um poema, o próprio escólio, uma notícia, um comentário, uma foto, um artigo etc., a coerência precisa ser observada entre os temas (e remas) escolhidos. Minha justificativa: nos últimos dias, tenho me dedicado à cozinha. O preparo de uma comida gostosa é tão difícil quanto escrever um poema. Ambos devem agradar, ou ao prazer gastronômico, ou à necessidade estética (corpo e espírito). Ainda para justificar, reafirmo: sempre me dedico à poesia.

COMO NASCE UM POEMA?

Na manhã de ontem, pensando sobre a dúvida, escrevi o seguinte:
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devido
à dúvida
me divido
em dois
000
um duvida
da vida
o outro
a vive
000
um vê
a dívida
o outro
a dádiva
ooo
um ouve
a vaia
o outro
o viva
oo
um dia
boliza
o outro
endeusa
...

O poema não termina aí, pode continuar num jogo dicotômico interminável. A solução encontrada para compor a antítese não é definitiva, outras palavras ou locuções talvez se encaixem melhor. A reescrita é necessária, conservando o referencial fonético: a repetição dos sons "d" e "v".

NA PENSÃO

O café muito quente leva ao maior consumo de pão, contra a vontade do dono da pensão. Dessa forma, a primeira refeição do dia é quase morna. O feijão do jantar é sempre mais ruim do que o servido ao meio-dia. Obviamente, pelo acréscimo de água. A massa não é recomendável ser consumida à noite, noventa por cento dos casos de enteralgia (dor de barriga) têm origem nesse alimento mal confeccionado e mal condicionado.

quinta-feira, 20 de março de 2008

REPULSA AO ACRE

Por que o gaúcho descendente de portugueses, espanhóis, índios e negros, caracterizado como "pêlo duro", não gosta de salada verde? A resposta é muito simples: o italiano, chamado de "gringo", exagera no vinagre. Para dizer que gosta desse tempero, coloca-o até a alface flutuar no fundo da bacia. O outro não come a salada pela repulsa ao acre e, orgulhosamente, para defender sua individualidade.
Maneira correta de temperar uma salada de folhas:
Com uma das mãos, espalhar o sal (a mão precisa estar seca para isso);
com a outra mão, revirar as folhas;
espargir o vinagre em seguida (para desfazer possível concentração de sal), revirando as folhas;
espargir o azeite (ou óleo, sfc);
escorrer o excedente depositado no fundo da vasilha.



SALADA DE PEPINO

Como fazer uma salada de pepino sem o reclame tardio de que ela não fez bem? Aprendi com a minha mãe. Não há outra forma, ainda que os restaurantes façam diferente. A começar pelas extremidades, corte toda a parte branca do fruto até as sementes. A salada deve ser feita com a parte central, fatiada transversalmente. Além do sal, apenas algumas gotas de limão.

terça-feira, 18 de março de 2008

NADA POÉTICO

As aves abaixo, raramente são cantadas pelos poetas. O corvo ganhou certa notoriedade no Gênese (um dos livros mais poéticos que conheço) e na pena ultra-romântica de Edgar Allan Poe.
ooo
Gênesis 8:7
"... e soltou um corvo, o qual, tendo saído, ia e voltava, até que se secaram as águas de sobre a terra.
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O corvo
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho Corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o Corvo, "Nunca mais".
ooooooooooooooooooooooooPoe

URUBU, CORVO E ABUTRE

No embalo das duas últimas postagens, apresento uma terceira ave que pode ser confundida com as anteriores (corvo e urubu): o abutre. De acordo com o grande Dicionário Houaiss, abutre é a designação comum a várias spp. de aves falconiformes da fam. dos acipitrídeos, que ocorrem na Europa, Ásia e África; de grande porte, podendo alcançar até 1 m de comprimento e 3 de envergadura, ger. de cabeça e pescoço pelados. [Alimentam-se de animais mortos.]

ESCÓLIO

Na primeira versão do poema abaixo, antes de pesquisar no Google Imagens, a ave tematizada era o corvo. Assim denominávamos o urubu lá no Rincão dos Machado. Qual a minha surpresa ao procurar a foto do tema? O corvo do meu poema era, na verdade, um urubu. Os corvídeos são encontrados em todos os continentes, à exceção da América do Sul. Decepcionado, mudei o poema (que perdeu seu ritmo original). Para que os leitores não cometam o mesmo equívoco, publico a imagem do corvo (cuja pronúncia correta do plural, corvos, tem o primeiro "o" aberto).

sinal


um urubu
que voa sozinho
é diferente
de dois urubus
em círculo

índio perscrutador
de céu
há muito dizia
que

um urubu
é bom sinal
dois em círculo
coisa ruim

tudo ocorre
desde então
como se urubus
previssem
dias felizes
ou não

segunda-feira, 17 de março de 2008

DA INFLUÊNCIA RELIGIOSA

A Sexta-Feira Santa no Rincão dos Machado, há quarenta anos, era uma coisa medieva, própria de um tempo de superstições e assombros. O medo (que não pode ser confundido com respeito) forjava as crenças transmitidas pelos mais velhos e desautorizava a inobservância à tradição católica. Nossa comunidade vivia como se fosse na Idade Média, inteiramente dominada pela grande religião cristã, cujo símbolo maior é a cruz (sofrimento e morte). Aos poucos, todavia, os meninos passamos a estudar na cidade; o pula-toco foi substituído pelo trator; a lamparina à querosene, pela luz elétrica; a carreta de bois, pelo reboque; a foice de cortar trigo, pela colheitadeira; o cavalo, pelo veículo automotor; o rádio (ouvido a partir de 1969), pela televisão... As trevas da ignorância, aos poucos, foram sendo reduzidas por uma espécie de iluminismo – evolução que os nossos ascendentes relutavam em aceitar, porque viam no avanço a possibilidade catastrofista do fim do mundo. Naquela época, ninguém se perguntava, por exemplo, acerca do costume de comer peixe na Sexta-Feira Santa e vaca gorda no Sábado de Aleluia. Tudo o que era proibido na sexta, fazia-se sem controle no sábado. O respeito e o falso pesar da sexta (pela morte de Jesus) davam lugar à vingança irracional contra Judas no sábado. Tão somente, sabia-se que a sexta era santa, e o sábado era de aleluia. Nos atuais dias, isso até provoca risos. O mundo não chegou ao fim. Pelo contrário, os homens vivem melhor com a ciência, com as técnicas aplicadas na agricultura, no trato com os animais e consigo mesmos. No Rincão dos Machado, ninguém come churrasco na Sexta-Feira Santa, mas os nossos parentes que lá vivem já deixaram a Idade Média para trás.

domingo, 16 de março de 2008

BUENOS AIRES

Maria Laó es la más nueva integrante de nuestra "blogosfera". Ella reside en Buenos Ayres y pertenece a un grupo de poetas. Sea bienvenida!

CERTAS BRINCADEIRAS...

Certas brincadeiras de mau gosto ofendem mais do que um tapa em circunstâncias inesperadas. Outras machucam como espinho pequeno, quando repetidas com freqüência. O autor da brincadeira, por falta de sensibilidade, tato ou empatia, raramente percebe seu comportamento espezinhador. O alvo preferido é seu oposto, obviamente, pessoa sensível que sofre calada em respeito à vinculação de dependência (entre patrão e empregado, por exemplo). De tempo em tempo, a reação é inevitável. A humilhação sofrida em doses homeopáticas, de repente, transforma-se num tsunami incontrolável, violento. Nesse momento, manifesta-se um aspecto paradoxal e desprezível em quem brinca com segundas e maldosas intenções: sente medo. Prontamente, retrata-se com a já conhecida evasiva: era brincadeira. Por que não adiantou que o era (antes de provocar a reação do ofendido)?
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Escrevi a reflexão acima como protesto contra esses brincalhões, cuja deformidade de caráter parece dominante nos ambientes familiares, no trabalho, no desporto...
oo
Com isso, não estou condenando a brincadeira, mas a salvaguardando do espírito de decadência de que Nietzsche já vislumbrava há um século e pico.
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Quem bem me conhece poderá dizer que, embora aparente uma grande seriedade, gosto muito de brincar. Minhas brincadeiras, no entanto, nunca visam à humilhação de quem quer que seja. Meus colegas no trabalho são as melhores testemunhas dessa auto-avaliação.


sexta-feira, 14 de março de 2008

FRAGMENTOS DO COTIDIANO

Blogueiros, vamos postar mais freqüentemente! Vamos comentar acerca da postagem dos demais! Vamos incentivar nossos colegas, amigos e conhecidos a criar um blog! Vamos!
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Num ano de eleições municipais, que dizem respeito a nossa aldeia, impossível a impassibilidade, o não tomar partido (diferentemente de ter partido). Meus parentes e amigos estão em todos os partidos. Por isso, estou com eles e não me posiciono partidariamente.
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Achei interessante uma manchete do Expresso Ilustrado (edição do dia 7 mar) que destacava "A SITUAÇÃO DA OPOSIÇÃO". Mandei uma mensagem para o João Lemes: A SITUAÇÃO DA OPOSIÇÃO SE DEVE À POSIÇÃO DA SITUAÇÃO.
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Recebemos uma correspondência da Câmara Rio-Grandense do Livro, solicitando-nos a adesão à Semana do Livro, evento que se realizará de 18 a 25 de abril. (O verbo na primeira pessoa do plural significa que represento o Centro Cultural de Santiago neste enunciado, na função de diretor do Departamento de Literatura.)
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O Expresso Ilustrado está cada vez melhor. Destaques da edição de ontem: BRIGADA MILITAR FAZ A LIMPA EM SÃO CHICO; AMEAÇA VEM DE DENTRO (João Lemes toca num tema-tabu); CRISTÓVÃO PEREIRA VIRA SESSENTÃO (no meu tempo era o melhor); BANALIZAÇÃO DA MORTE (Rodrigo Vontobel estréia muito bem); ONG CASULO - HÁ TRÊS ANOS RECUPERANDO JOVENS; ADEUS AO GRANDE LÍDER (sobre o trágico falecimento do senhor Osvaldo Kempa).
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A livraria do Tide, na Rua dos Poetas, é ponto de chegada.
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O sábado está azul, de um azul que ainda não fez este ano. Também pudera, abril se aproxima, quando as manhãs são tão azuis quanto as manhãs de outubro, na primavera.
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Preciso ir ao supermercado apenas para comprar alface, a face verde do almoço (para harmonizar com o vermelho das almôndegas).
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O mundo se torna mais suportável, a vida cotidiana ganha novos coloridos, quando a vemos como um fenômeno estético. Nietzsche nunca esteve tão certo.
Amo esse filósofo.



LA FUNCIÓN DEL ARTE

Diego no conocía la mar. El padre, Santiago Kovadloff, lo llevó a descubrirla.
Viajaron al sur.
Ella, la mar, estaba más allá de los altos médanos, esperando.
Cuando el niño y su padre alcanzaron por fin aquellas cumbres de arena, después de mucho caminar, la mar estalló ante sus ojos. Y fue tanta la inmensidad de la mar, y tanto su fulgor, que el niño quedó mudo de hermosura.
Y cuando por fin consiguió hablar, temblando, tartamudeando, pidió a su padre:
—¡Ayúdame a mirar!

OOO
(Tradução)
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovodloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o sul. Ele, o mar, estava do lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai, enfim, alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando, finalmente, conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu a seu pai: Me ajude a olhar.
ooo
O conto acima foi extraído de El libro de los abrazos, do escritor uruguaio Eduardo Galeano (Montevidéu, 3 de setembro de 1940). Uma de suas obras de maior relevância política e importância é As veias abertas da América Latina, um dos melhores livros que li. Nenhum leitor continua o mesmo depois de sua leitura.

quinta-feira, 13 de março de 2008

LA MÚSICA

Li a Mensagem do dia!!! no blog da Adriana Parise: "Não importa o que tiraram de você, o que importa é o que você vai fazer com o que sobrou". Essa frase me reporta a uma história contada por Eduardo Galeano em Patas arriba.
Ei-la:
Era un mago del arpa. En los llanos de Colombia, no habia fiesta sin él. Para que la fiesta fuera fiesta, Mesé Figueredo tenía que estar allí, con sus dedos bailanderos que alegraban los aires y alborotaban las piernas.
Una noche, en algún sendero perdido, lo asaltaron los ladrones. Iba Mesé Figueredo camino de una boda, a lomo de mula, en una mula él, en la otra el arpa, cuando unos ladrones se le acharon encima y lo molieron a golpes.
Al día siguiente, alguien lo encontró. Estaba tirado en el camino, un trapo sucio de barro y sangre, más muerto que vivo. Y entonces aquella piltrafa dijo, con un resto de voz:
- Se llevaron las mulas.
Y dijo:
- Y se llevaron el arpa.
Y tomó aliento y se rió:
- Pero no se llevaron la música.
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llanos: planos (relevo)
bailanderos: bailarinos, dançantes
sendero: senda, caminho
boda: casamento
lomo: lombo
echaron: lançaram
piltrafa: trapo de gente

quarta-feira, 12 de março de 2008

BLOGS E SISTEMAS DE BUSCA

CARÍSSIMOS BLOGUEIROS!
Vocês já se deram conta de que nossos blogs estão invadindo os sistemas de busca? Para comprovar esse fenômeno webiano, basta digitar no Google um nome que remeta ao título de um blog ou a algum de seus posts. O usuário da web que procurar uma definição para o termo "contraponto", por exemplo, terá este blog entre as primeiras opções. Nesse caso, ele deparar-se-á com informações completamente diversas da que requer no início da busca.
Não corremos risco de uma babel hipertextual, uma vez que as ferramentas disponíveis e a velocidade na produção de um resultado impedem que se instale a desordem. O máximo que poderá acontecer é que sejamos visitados por internautas estranhos a nossa blogosfera, ampliando a rede de relações a que pertencemos.
Dessa forma, exorto a todos para que tenhamos mais cuidado com as nossas postagens, mormente com a temática e o tratamento lingüístico das mesmas.

terça-feira, 11 de março de 2008

LILA RIPOLL

Hoje não é o Dia Internacional da Mulher, mas presenteio minhas adoráveis leitoras com a lembrança de uma poeta (forma preferida a "poetisa") gaúcha, nascida em Quaraí (1916): Lila Ripoll. A propósito, pergunto como uma cidade pequena feito Quaraí, quase isolada nos confins da campanha, pôde trazer ao mundo da arte tantos nomes de destaque nacional: Cyro Martins, Dionélio Machado, Miguel Proença, Luís Meneses, Lacy Osório, Mario Eleú... Lila Ripoll formou-se no Conservatório de Música da UFRGS, mas optou pela poesia. Publicou: De mãos postas; Céu vazio; Primeiro de Maio; Poemas e canções; O coração descoberto; Águas móveis; Antologia poética. A poeta foi presa como comunista em 1964 e morreu de câncer alguns anos depois.
POEMAS DE LILA RIPOLL
000
Realidade
000
Não quero olhar esta manhã
unânime na sua claridade.
Nem ver o pássaro
que se incorpora na paisagem.
00
Reconheço a primavera
mas sei que ela é fictícia.
Que é impostura
seu ar de flor aberta,
com acenos à vida
e à liberdade.
ooo
Não mergulho no céu
e não aceito revoar de arcanjos.
ooo
Não quero nuvens vazias e translúcidas,
nem ventura celeste do vento e chuva construída.

ooo
Tenho o peso terrestre
sobre os ombros.
ooo
Duro.
Lacerado,
decomposto.
ooo
Que quer esta manhã
de claridade anânime?
oo
A hora é triste
e meu poema respira claridade.
ooo
000
Canção de agora
ooo
Ontem meu peito chorava.
Hoje, não.
Também cansa a desventura.
Também o sol gasta o chão.
ooo
Estava ontem sozinha,
tendo a meu lado,
sombria,
minha própria companhia.
Hoje, não.
ooo
Morreu de tanto morrer
a pena que em mim vivia.
Morreu de tanto esperar.
Eu não.
ooo
Relógios do tempo andaram
marcando o tempo em meu rosto.
A vida perdeu seu tempo.
Eu não.
oo
Também cansa a desventura.
Também o sol gasta o chão.
oo
Extraído do livro História da Literatura Brasileira - Da carta de Pero Vaz de Caminha à contemporaneidade, de Carlos Nejar. Ganhei essa obra autografada pelo poeta em novembro de 2007: Para o poeta Froilam Oliveira com o abraço pampeano e amigo de Carlos Nejar.

domingo, 9 de março de 2008

OITO DE MARÇO

Ontem foi o Dia Internacional da Mulher. Para o senso comum, a data constitui uma grande homenagem à mulher. Diferentemente, para os espíritos críticos (entre os quais me incluo), não passa de uma pequena concessão da sociedade machocêntrica*. Por que os homens não se consagram um dia (para comemorar a milenar superioridade)? Eles não o fazem pela irrelevância, pois que dispõem do ano inteiro. Para que não se sintam culpados, em vista da histórica desigualdade que os beneficia, abrem mão de um dia. Tamanha avareza acaba sendo alardeada como “justiça social”, à semelhança do que ocorre com o sistema de cotas para o ingresso na universidade pública. A maioria branca, mesmo contrária aos novos critérios, vangloria-se com a solução encontrada para os problemas da educação no Brasil. A qualidade dos cursos de graduação não cairá, uma vez que os beneficiados com as cotas tudo farão para justificar suas inclusões. As mulheres fazem para o fim do preconceito e da desvalorização de que são vítimas desde tempos míticos (a Bíblia, por exemplo, constitui um código machista). Um dos primeiros homens a reivindicar direitos para elas foi o filósofo Condorcet (1788). Antes de 1932, sequer eram cidadãs as brasileiras (não votavam). O Oito de Março foi marcado de vermelho no nosso calendário com a morte de cento e muitas mulheres. A violência sofrida por elas perpetuou um ato corajoso contra o poder masculino. O dia não pode ser comemorado como uma conquista, todavia. Não passa de uma migalha embebida no sangue de mães, esposas e filhas dos homens. A elas cabe o pão inteiro que se chama vida.
ooo
* machocêntrica: neologismo que expressa a posição de centralidade do gênero masculino.
ooo
(Texto publicado na coluna do Expresso Ilustrado de 7 de março de 2008)

ESPIGAS DE LUZ


oooooooooem plena manhã
oooooooooa pomba arrulha
ooooooooono meio das folhas
oooooooooo sol no alto
oooooooooamadurece
oooooooooespigas de luz
ooo
oooooooooooooonas pedras caducas
ooooooooooooooda duque
oooooooooooooome equilibro
oooooooooooooopara ouvir
ooooooooooooooa pomba
ooooooooooooooe apanhar o sol

sexta-feira, 7 de março de 2008

IMPORTÂNCIA DA REESCRITURA

A produção de um poema inicia-se com a vontade de quem, a partir de então, constitui-se num sujeito poético. Disso não estavam isentos os dadaístas e surrealistas. Tal vontade vem sempre associada a um tema, a algo que o sujeito quer expressar em versos.
Nesta manhã, andando por uma longa alameda, pensei o que são das palavras ante o silêncio. Obviamente, elas continuam a existir, mesmo que eu não pense, não fale ou não escreva nada (o que é inconcebível, na prática). Sentado à mesa de trabalho, escrevi “no silêncio as palavras des-cansam”.
O verbo “descansam”, que personifica as palavras, pode ser substituído por outros (que se encaixem melhor, na forma e no conteúdo): esperam, respiram, responsam...
Não basta pensar a palavra certa, devo atentar para a sua pronúncia, para a sua grafia. Para a poesia, a mesma palavra faz diferença entre ser pensada, falada ou escrita. Com duas ou três palavras, o exercício se amplia consideravelmente. O universo das palavras conhecidas ou buscadas no dicionário é quase infinito, levando-se em conta as combinações possíveis. O poema consiste no resultado mais ou menos satisfatório de um trabalho meticuloso, raramente facilitado por algum insight.
Na seqüência, acresci “de uma incômoda significação”. Esse verso funciona como um mero complemento. Da mesma forma, possui inúmeras possibilidades lexicais, sintáticas e semânticas. Inclusive sua total supressão é viável, optando-se pela lacuna. Isso é recorrente na arte poética. No lugar de se dizer algo, com excesso de verbos e adjetivos, nada se textualiza.
Reescrevi catorze vezes o mesmo poema, quietas palavras.
Mário Quintana já ensinava mais ou menos isso aos poetas.

quinta-feira, 6 de março de 2008

quietas palavras


no silêncio
as palavras
des-cansam
de sua incômoda
significação
oo
quem sabe
as encontra
sob a pele
dos relógios
(onde o tempo
é provisório)
oo
no silêncio
as palavras
a-guardam
por um novo
pro
ooocurador

RISO E ASSOMBRO

Um personagem de Aldous Huxley, em O gênio e a deusa, inicia um diálogo: - O mal da ficção – disse John Rivers – é que ela faz sentido de mais. Por esse motivo, García Márquez atrai tantos leitores no mundo todo. Especialmente Cem anos de solidão e seu realismo mágico. O mesmo personagem arremata que “a realidade nunca faz sentido”. Bem assim, categoricamente. A guerra, para dar-lhe razão, nunca faz sentido.

Na perseguição de um grupo criminoso, o país C entra em território do país E. O país V, do lado oposto à fronteira entre os países C e E, sai em defesa do último. O presidente do país V, fanfarrão e belicoso, delira com a possibilidade do país C invadir seu território também. Dessa forma, quase declara guerra ao país C. Fecha a embaixada do suposto inimigo e desloca as tropas para a fronteira. O presidente do país C pede desculpa ao país E, que não as aceita, encorajado pelo presidente do país V. O país B, por intermédio de seu presidente, fala da necessidade de paz no continente. Não obstante, condena o que chama de violação cometida pelo país C e vende armas ao país V. Os pequenos países D e F se oferecem para mediar a crise e são ignorados solenemente. O país A (o mais poderoso do planeta) se solidariza com o país C. São aliados na luta contra guerrilheiros e traficantes que se instalaram na região (protegidos pela floresta).

Numa comparação simplista, o caso se assemelha ao do agricultor que descobre a causa dos estragos em sua lavoura: um formigueiro na propriedade vizinha (a alguns metros da divisória). De posse do veneno, cruza a cerca e faz o serviço que beneficiará também seu lindeiro. Este, no entanto, agrava-se com o fato de o outro ter entrado em sua propriedade sem permissão.

Muitos homicídios já ocorreram devido a essa forma de “ofensa”. A loucura ou a crueldade de um indivíduo ou de outro ainda pode fazer sentido, mas nunca no âmbito de um país.

O que acontece entre C, E e V parece ser real. Como o é, provoca riso e assombro ao mesmo tempo. A História prova irrefutavelmente que muitos conflitos internacionais foram iniciados por bem menos. Por isso, o assombro. Melindres e bravatas dos presidentes, certamente, terminarão em quase nada. Há uma inclinação para o quixotesco nos políticos deste continente, quase sempre corrigida pela diplomacia (fiel representante do sanchismo). Por isso, o riso.

(Texto para a revista A Hora)


terça-feira, 4 de março de 2008

Leio numa revista de Filosofia que uma emissora da BBC de Londres lançou a seguinte pergunta aos ouvintes: qual o filósofo mais importante da história? Os dez mais para os ingleses são os seguintes:
1º - KARL MARX;
2º - DAVID HUME;
3º - LUDWIG WITTGENSTEIN;
4º - F. NIETZSCHE;
5º - PLATÃO;
6º - E. KANT;
7º - TOMÁS DE AQUINO;
8º - SÓCRATES;
9º - ARISTÓTELES;
10º - KARL POPPER.
oo
A relação prova que os ouvintes de rádio não entendem muito de Filosofia, na Inglaterra, aqui, na China... Quatro dos escolhidos revelam a tendência nacionalista (de puxar a brasa para seu assado): Marx viveu e morreu na Inglaterra; Hume era vizinho da Inglaterra; Wittegentein formou-se em Cambridge e Popper se naturalizou britânico. Isso é compreensível. Os demais foram votados pelo critério do primeiro nome que vem à cabeça. Kant divide a história da Filosofia, poderia ser o primeiro da lista. Aristóteles atrás de Platão, Sócrates e Tomás de Aquino? Segundo o filósofo e historiador norte-americano Will Durant, o estagirita foi um dos maiores intelectos já produzidos pela humanidade. Nenhuma observação com relação a Nietzsche.

CANTARES

o beijo da tua boca
mais doce
que o mel
mais doce
que o vinho
é doce e inebriante
por isso hei de
beijar-te
qual se a doçura
me fosse
a essência
de todo instante

domingo, 2 de março de 2008

ANÔNIMO.COM(BATE)

Para evitar que a maledicência ganhe espaço neste blog, ativei o moderador de comentários. A partir de agora, a participação do leitor será editada com a minha aquiescência.
Infelizmente, há alguém que, aproveitando-se do anonimato, insiste em soltar o veneno de sua alma perversa – ou seria doentia? –, na vã tentativa de contagiar a mim (ou a quem está do meu lado).
Caso for verdadeiro o que tem a comentar, exorto esse sem caráter que o faça como uma pessoa de bem. Identifique-se nos comentários ou me mande um e-mail, declinando o nome de quem disse isso ou aquilo.

Tolerância zero para com o anonimato.