quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

RÚBIDA ROSA

Nova blogueira de Santiago: ERILAINE PEREZ. Acadêmica do curso de Letras da URI, leitora de Neruda, Florbela Espanca, Vinícius, entre outros. Poeta admirável, a despeito do ineditismo de suas metáforas (que explodirão como supernovas sobre o céu de nossa cidade). Selecionada para o projeto Santiago do Boqueirão, seus poetas quem são? da URI, seus poemas já circulam em alguns lugares (Caixa Econômica, Obino Top...). O novo blog http://erilainepoeta.blogspot.com está incluído ao lado.

CAIM E ABEL


Os nossos ancestrais, primeiramente, criaram os mitos como uma forma de interpretar o mundo. Hoje, numa tentativa de recriar o mundo, culturalmente falando, interpretamos os mitos. O Cristianismo e a Psicanálise são representantes dessas duas formas de produzir cultura. No Gênesis, tudo é mitologia, “narrativa de significação simbólica”, alegórica. O presente texto tem como objetivo dar uma interpretação ao mito adâmico, mormente aos irmãos Caim e Abel. Um dos estudos que mais me fascinam é o da evolução humana. Dois feitos foram fundamentais para a sobrevivência da nossa espécie: a domesticação de animais e a prática agrícola. Tanto uma quanto outra passaram ao domínio do homem há dez mil anos (aproximadamente). Posso ver uma tribo primitiva cuidando de suas ovelhas nas encostas e terrenos elevados. Descendo ao vale, às margens dos rios, lagos e mares, vejo outra tribo trabalhando a terra. Essas duas tribos eram encontradas em diversos pontos do Oriente. Cedo ou tarde, essas tribos (famílias, povos...) acabariam se confrontando, ou por disputa de alimento para si e para seus rebanhos, ou para ampliar suas riquezas. Os pastores sempre levariam a pior, caso optassem pelo confronto. Como defesa, criaram um deus que os abençoasse para sempre. Mais tarde, algumas dessas tribos formaram pequenos reinos, como os de Israel e Judá (onde nasceu a Bíblia). Meu insight constitui em relacionar Abel com as tribos pastoras, e Caim com as tribos agrícolas. No Gênesis, 4. 2, está escrito: “Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador”. Mas essa escrita não pode ser interpretada ipsis litteris, como o fazia um pastor evangélico (seguro de que seu deus havia criado o homem falando perfeitamente, com o aspecto atual conforme publicações cristãs).

ooo

(O texto acima é um resumo do publicado na revista A Hora e constitui a coluna do Expresso Ilustrado de 1º de fevereiro de 2008. O quadro acima foi pintado em 1620, por Simon Vouet e Pietro Novelli. )

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

CONFIESO QUE HE VIVIDO

Extraordinário esse livro autobiográfico do poeta chileno. Havia-o lido há muitos anos. A nova leitura está me tirando a televisão (que vejo raramente, tipo flash de notícias), algumas horas de sono, mas vale a pena. Não leio sozinho, alternando a atenção visual e auditiva. Essa forma me ocorreu entre seis e sete anos, quando a mãe me alfabetizou. Depois, todo o meu autodidatismo não passou de uma atividade solitária. Não o é mais, porque aprendi que o conhecimento deve ser partilhado, socializado.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

ANIVERSÁRIO

O que sinto/penso ao completar 49 anos? Sinto que meu coração atingiu o ponto de maior doçura, penso que minha cabeça irradia a luz mais intensa. Queria agradecer cada mensagem recebida. Amanhã farei a cada um.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

DOIS SENHORES

A hipocrisia é uma característica da nossa sociedade, observável em homens e mulheres. Eles acreditam em Jesus, oram para Jesus, (pseudo)discípulos de Jesus, contudo (pre)ocupados com os negócios mundanos, com a prosperidade material. Elas, (pseudo)discípulas de Jesus, vestem-se como atrizes da televisão ou como “peruas” em eventos sociais, vaidosas dos cabelos às unhas do pé. Homens e mulheres hedonistas, egocentristas, contudo tementes ao Senhor. Oram aos gritos, contrariamente ao preceituado em Mt 6.5-7, mas no secreto de seus quartos se transformam em vulgares criaturas, dominadas pela libido, num abrasamento que incendeia o mundo. Antes disso, porém, quando ocorrem os primeiros contatos entre eles e elas, a hipocrisia alcança o mais alto requinte. Os gestos e os discursos não passam de um meio para atingir o fim: o prazer lúbrico, sensualista. Com o dinheiro, eles conquistam as mulheres mais belas. Com a beleza, elas atraem os homens mais endinheirados. Para isso, eles e elas apelam para deuses diferentes ao mesmo tempo, desobedecendo frontalmente ao Evangelho (Mt 6.24). O grande número de igrejas que há em Santiago não diminui a concupiscência, o “desejo intenso de bens ou gozos materiais, o apetite sexual”. A realidade terra-a-terra denuncia o fingimento de muita gente, que, despudoradamente, agradece a Deus por ele atender às súplicas e desvarios de suas orações.
OOO
(Esboço para a coluna do Expresso)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A DIFERENÇA

Logo após a vitória do Internacional nas arábias, saí com esta para "charquear" os colorados: Dubai não é Rio Grande. Aqui "eles" enfrentam Grêmio, Juventude, Interzinho...

HIPOCRISIA CRISTÃ

A hipocrisia é uma característica da nossa sociedade, observável em homens e mulheres. Eles acreditam em Jesus, oram para Jesus, (pseudo)discípulos de Jesus, preocupados com os negócios mundanos, com a prosperidade material. Elas, (pseudo)discípulas de Jesus, vestem-se como as atrizes em noite de Oscar, ou como as “peruas” em eventos sociais, vaidosas do cabelo à unha do pé. Homens e mulheres hedonistas, sensualistas, contudo, tementes ao Senhor. Oram aos gritos, contrariamente ao preceituado em Mt 6.5-7, mas no secreto de seus quartos se transformam em vulgares criaturas, dominadas pela libido, num abrasamento que incendeia o mundo.
oo
(Esboço para a próxima coluna do Expresso)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

VOU PRA FORA

O título acima é de uma música composta por Luís Carlos Borges, letra de Antonio Augusto Ferreira e interpretada pelo Miguel Marques. Há pouco, meu amigo Valdir Pinto a colocou para tocar em seu computador. A letra diz um pouco do que um homem vou buscar no campo, algo como um tempo perdido, Ixtlán de Carlos Castañeda, o tempo de menino, o menino que ainda resiste a todo o processo aculturador. Hoje vou pra fora, rever meu pai, meu irmão, vizinhos, pessoas que amo (visitando-as). Talvez pesque lambari no Rosário, caminhando ao longo de suas margens, ouvindo suas águas se preciptarem docemente por entre as pedras. O rincão é a minha infância.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

A MÃO QUE BALANÇA O BERÇO...

O tema da minha última coluna do Expresso insinuava sobre a violência do homem contra a mulher em nossa sociedade. Por que as mulheres sempre apanharam e continuam apanhando (não obstante a lei rigorosa contra esse tipo de crime)? Tudo já se disse a respeito, seja pela opinião do senso comum, seja por intermédio do estudo com cientificidade. O melhor que li foi um capítulo dedicado à agressão em O macaco nu, de Desmond Morris, zoólogo inglês. Não posso repetir aqui o que está na língua do povo ou nos livros. Coerente com uma característica pessoal, prefiro chocar o leitor a bajulá-lo. Desta forma, penso que o machismo seviciador teve e tem seu berço embalado pelas mãos carinhosas daquela que se inscreveu/e forçosamente como vítima. A mulher-mãe cria o corvo que um dia sacará os olhos de uma mulher, até da própria em alguns casos. Condicionadas pela tradição milenar, machocêntrica, nossas bisavós, avós e mães sempre manifestam uma predileção pelos filhos homens. Não raro, os varões saem cedo de casa para trabalhar, estudar ou constituir nova família. Quem acaba cuidando zelosamente da mãe, avó ou bisavó são as filhas. Elas são moldadas para exercer esse papel, poucas vezes reconhecido como merecedor de elogios. A inferioridade feminina é bíblica e chega ao século XXI de uma forma rude, primitiva: machucada pelos bofetões. Aquele que bate ainda se rotula cristão. Hipócrita e prevalecido! Merecia queimar no inferno (se o inferno existisse). Um advogado me assegurou que as mulheres que entram em seu escritório na segunda-feira, geralmente foram agredidas pelos companheiros no fim de semana. A expectativa é que elas descobrirão um novo paradigma para criar seus filhos.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

COMENTÁRIO RECEBIDO

"AMOR... POR ISTO TE AMO!(:) QUANDO ANDAMOS A PÉ, DE BERMUDA E CAMISETA, PELAS RUAS, TODOS DEMONSTRAM A ADMIRAÇÃO QUE TÊM POR VOCÊ... ENTRAMOS NOS RESTAURANTES, TODOS TE ELOGIAM, TUA INTELIGÊNCIA, SIMPATIA, HUMILDADE, CARÁTER... TE AMO POR TUDO ISSO. TE AMO PORQUE ÉS AMADO... VOCÊ DISPENSA O USO DE TERNO E GRAVATA, UNIFORME E ESTRELAS NOS OMBROS. A VERDADEIRA ESTRELA BRILHA NA TUA GENIALIDADE, E ESTA NINGUÉM OFUSCA, MUITO MENOS APAGA!!!! TE AMO, PORQUE ÉS POETA, COMO EU, SENSÍVEL, UM ANJO DE ASAS LÍQUIDAS SOBREVOANDO CIDADES EM CHAMAS..."

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

LISE MARIA FANK

Na edição de sexta-feira, dia 11 de janeiro, o Zero Hora publicou um poema da minha amiga e poeta Lise Fank. Não é a primeira vez que a página de Olyr Zavaschi, Almanaque Gaúcho, brinda-nos com amostras poéticas da nossa terra. O texto da Lise:
ooo
Dominó
ooo
No meu poema primeiro
do dia um de janeiro
quero tanto desejar
o mesmo do ano passado:
que a sociedade repense
neste jogo dominó
de humanos robotizados
de robôs humanizados
que a correria da vida
rouba o tempo de parar.
É bom saber acertar
e poder comemorar
ateando fogo no céu
sem o risco de deixar
por impulso de euforia
sonhos jogados ao léu.

COMENTÁRIOS

O confronto já não me provoca mais, aprendi a controlar os impulsos. O resultado não é bom: angustio-me com a maldade do meu (pseudo)semelhante. Ano passado, obriguei-me a suspender os comentários, o dispositivo abaixo que permite a interação com o leitor. Estou pensando em repetir a estratégia, visando à paz. Tenho editado neste espaço os mais belos poemas (alguns escritos a quatro mãos), idéias interessantes... que despertam a atenção de poucas pessoas sensíveis e inteligentes. Basta o reclame de uma fofoca injusta e... (Perdão, Vívian, sou forçado a usar os três pontinhos piegas.)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O ANONIMATO

A grande vantagem da cobra é que ela se esconde à beira da trilha que leva sua vítima dentro da mata. O êxito de seu ataque se baseia na surpresa. Os comentários anônimos, grosso modo, assemelham-se a esse ser rastejante e venenoso. Ninguém é "corno" pelas relações anteriores de seu companheiro (ou companheira).

ANTOLOGIA XII

Apenas ontem a Antologia XII - em prosa e verso me chegou às mãos. Meu amigo Ivan Zolin havia mandado os livros para a casa de seus pais, Batista e Natalina. A publicação é da ASSOCIAÇÃO SANTA-MARIENSE DE LETRAS (já transformada em Academia Santa-Mariense de Letras) e reúne poemas, crônicas, contos e ensaios. Autores que conheço: Adelmo Simas Genro, Antonio Augusto Ferreira, Antonio Carlos Machado, Chico Ribeiro, Humberto Gabbi Zanatta, Lígia Militz da Costa, Mário Eleú, Oracy Dornelles, Prado Veppo, Luiz Antonio de Assis Brasil, Máximo José Trevisan, Moacyr Scliar, Vitor Biasoli, Regina Zilberman, entre outros. Meus dois poemas escolhidos pela comissão editorial foram ETERNO RETORNO e TROCADILHOS.
oo
eterno retorno
ooo
a manhã
tece cesto
com as flores
para levar
o orvalho
até às faces
da tarde
oo
mas tropeça
no caminho
e retorna
com os pássaros
para dentro
de um viveiro
de auroras
ooo
ooo
trocadilhos
oo
a gente
da gente
não se lembra
da gente
oo
ninguém
da gente
se lembra da gente
de ninguém
oo
a gente
de ninguém
se lembra
da gente
oo
ninguém
se lembra
de quem
não se lembra
de ninguém

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

POEMA DE AMOR

no escuro do quarto
desaba
a doce tempestade
dos teus cabelos
e a silhueta
do teu corpo
se define no tato
e o cheiro
do teu colo
me leva aos céus
numa viagem
que faço
com a leitura
dos suspiros teus

JANELA DOS PÁSSAROS

...
da tua janela
nascem pássaros
quando a manhã
estende seus lençóis
sobre meus olhos
contemplativos

oo
da tua janela
nascem pássaros
quando sonho


OO
...
os pássaros cantam
à meia-tarde
como se fosse
manhã
depois que a chuva
passa
e brilha o sol

oo
cantam os pássaros
e me encanto
com o azul
que se abre
como se fosse manhã
à meia-tarde

oo
...
para onde
vão à noite
os passarinhos?
oo
se escondem
entre as folhas?

oo
ou passam
nos ninhos?

oo
ou voam
para começar
o dia?

oo
...

tuas mãos
pequenas
e tão delicadas
são bonitos
poemas
que nas madrugadas
colhem as estrelas
pelos olhos
meus
no céu
dos lençóis
apontadas

MARIA DA PENA

Em Cem anos de solidão, García Márquez narra a história da família Buendía ao longo de um século. Os homens são José Arcádio, Aureliano, Arcádio José ou Aureliano José; as mulheres, Úrsula, Pilar, Remédios, Fernanda ou Amaranta. O romance é um dos melhores já produzidos em toda literatura, inigualável em seu realismo maravilhoso. Em Cheiro de Goiaba, livro de entrevista, o escritor colombiano explica que o ponto de partida para Cem anos de solidão foi uma imagem visual, inspirada na realidade: Um velho (o Coronel Márquez) que leva um menino (García Márquez) para conhecer o gelo num circo. Ao saber do drama vivido por quatro mulheres santiaguenses – filha, mãe, avó e bisavó – penso ter encontrado o ponto de partida para o enredo de uma novela. A filha, casada e sofrendo a mesma sina de suas antecessoras, poderia narrar em primeira pessoa (técnica muito utilizada no cinema). Agora, porém, com uma aliada de respeito: a lei “Maria da Penha”. Finalmente, o marido preso por seviciá-la, ela contaria sobre a desdita que se repetiu por meio século. A bisavó, a avó e a mãe, todas obrigadas a fugir ou deixar a casa, onde coabitavam com homens brutais ou mulherengos. Com o único amparo da própria mãe, essas mulheres tiveram a coragem de romper um paradigma machista, miticamente forjado na tradição judaico-cristã. Cada uma delas ganharia o nome fictício de Maria da Pena (ou dá pena). Quatro gerações de sofrimento necessário para que os homens, finalmente, mais sensíveis, aceitassem um novo paradigma, agora fundamentado na igualdade e no amor.