sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A RELIGAÇÃO DOS SABERES

Esse livro organizado por Edgar Morin é extraordinário. Seguidamente, apanho-o da minha estante para reler algum coisa. Agora mesmo, abro na página 40: A era estelar. Um milhão de anos mais tarde, tendo a temperatura do universo caído para aproximadamente 3.000 graus, o átomo de hidrogênio nasce da captura do elétron pelo própton. Desde então, o universo ilumina-se, pois os elétrons acorrentados não podem mais reter os fótons. É a alvorada cósmica. [...] O gás universal fragmenta-se em imensas nuvens que florescem em estrelas. As estrelas, individualmente, opõem-se com todas as suas forças (ou, melhor dizendo, com toda a força da gravitação, que é a atração da matéria pela matéria) à expansão do universo, essa corrida generalizada em direção ao difuso e ao frio. Elas concentram e reaquecem a matéria em seu seio. Sob a influência do calor, elas transformam em seu cadinho os núcleos de hidrogênio e de hélio gerdados do Big Bang em carbono, azoto, oxigênio etc. e tornam-se assim o verdadeiro motor da evolução química das galáxias. [...] A estrela é o lugar em que a matéria se desmaterializa, pois nela a matéria se transforma parcialmente em luz, contrariamente ao Big Bang, que é o acontecimento no qual (parcialmente, muito parcialmente) a energia se materializa. Ela brilha porque transmuta elementos. [...] Nos cadinhos estelares o simples hidrogênio transforma-se em complexos carbono, azoto, oxigênio, ferro, ouro e urânio. Se quisesse agradar as crianças, eu poderia dizer que no coração das estrelas celebram-se milhares de casamentos entre núcleos de átomos. O grito de alegria é a luz. E acrescentaria, para fazer com que gostem de matemática, que as estrelas fazem operações aritméticas: 3 hélios correspondem a 1 carbono, da mesma forma que 3 x 4 = 12. [...] As estrelas entregam ao vento celeste miríades de átomos alados. Dessa forma, elas desempenham o papel de artesãs conscienciosas na economia geral do universo. As grandes, revolucionárias, cuja explosão é acolhida aqui embaixo pelo grito alegre de "supernova", oferecem ao céu os átomos confeccionados em seu seio, e as pequeninas, como o Sol, distribuem em volta de si luz e calor duráveis. [...] Quando vocês olharem as estrelas, façam-no com outro olhar. Olhem-nas como aquilo que elas realmente são: as mães de nossos átomos.
A era solar - A pele luminosa do astro do dia esconde, de fato, uma central nuclear de confinamento gravitacional. Ele traz em seu coração o inferno, mas sua face é serena. [...] O homem é um caçador diurno e a atmosfera é transparente numa grande parte da irradiação solar, e é a permanência da luz do Sol que forjou nossos olhos (todos os olhos existentes no mundo): seus átomos falaram sem parar a linguagem da luz aos átomos de nossos olhos. O olho é solar: por isso, somos cegos em relação às estrelas muito mais quentes ou muito mais frias que este Febo da crina dourada. [...]
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O conhecimento chega a ser poético.

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