quarta-feira, 24 de outubro de 2007

OS DOIS POMBOS

Ao retornar para casa, pelo bosque de eucaliptos, observei dois pombos engalfinhados numa peleia. Dois pombos peleando, essa é boa! Você pode estranhar, mas é a pura verdade. Continuei meu caminho, rindo por dentro desse fato. Como tais criaturas tão doces, delicadas, pacíficas (constituem o símbolo da paz), são capazes de lutarem entre si? O motivo estava a alguns metros dos emplumados contendores: uma pombinha, mais delicada ainda, ainda mais fofa. Será que o pombo possui um "eu"? Uma individualidade racional? Não possui. Dessa forma, era o instinto específico que obrigava os dois pombos a disputarem a fêmea. Instinto é um modo de dizer que seus genes querem cegamente se perpetuar, transformando os pombos em meros veículos desse propósito. A teoria da evolução de Charles Darwin está comprovada: não é o indivíduo que sobrevive, mas a espécie de pombos, com a maximização contínua da qualidade. Os genes do mais forte conseguirão seguir adiante. Isso acontece em todo o reino animal. O derrotado - que luta menos, que corre menos, que voa menos, que ataca menos, que nada menos, que menos tudo (o trocadilho ficou legal) - interrompe o processo evolutivo. O homem, por mais que interfira artificiosa e negativamente em sua sobrevivência, também obedece a essa lei natural. Basta pensar que na época do avô do nosso avô, a mortalidade infantil era muito maior, a expectativa de vida era muita menor, as mortes ocorriam com bastante freqüencia, sem que o indivíduo cumprisse o seu desígnio específico (de espécie, tá). Eu, você, todos nós somos a prova de um processo seletivo bem sucedido. O "eu" humano, disfarçado de senhor, está programado a cumprir fielmente os ordens dos genes. Somos tão manipuláveis quanto os pombos, mesmo com toda a agressividade que nos caracteriza filogeneticamente.

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