sábado, 13 de outubro de 2007

NÍVIA ANDRES

Não tenho palavras para elogiar a coluna da jornalista Nívia Andres, publicada nA Folha Santiago, em 5 de outubro de 2007. Gostaria muito de cumprimentá-la pessoalmente, seu texto se alinha ao grande projeto que resultou na criação da Rua dos Poetas. Rendo-lhe uma homenagem, transcrevendo sua crônica (tão genial quanto as produzidas pelo Frotinha).

"Rua dos Poetas, nº 1

ooooo"Santiago. Rua dos Poetas. Noite de 3 de outubro de 2007. No puro ar da madrugada, leve brisa faz balançarem minúsculas estrelas de prata que restaram da festa de poucas horas antes. Suas partículas de luz envolvem Caio, Manuel, Zeca, Ramiro, Túlio, Antõnio Carlos, Sílvio, Carlos Humberto e Jaime, nove homens que deslizam lentamente, lado a lado, na solidão da rua, tão diferentes em sua circunstância, tão si-métrica e exatamente iguais na sua arte, prosa-poesia-palavra-poética-afinal. O que é a poesia senão a palavra rítmica que escorregou da frase e caiu na outra linha? E a prosa, não é somente a palavra comportada, tão bela quanto cântico, que insiste em caminhar até o fim da pauta?

ooooo"Estes homens-poetas, arquitetos de mil-palavras se movem na aragem noturna e comovem uns aos outros, ao contemplarem suas faces esculpidas em bronze, na pedra que os eterniza, humaniza e trz para perto do povo. E caminham, mirando-se no espelho do tempo. Caio relembra outros momentos, outra rua, em que correu desesperadamente sua solidão, até a uma porta que não se abriu... Manuel, ao caminhar, recorda a sua musa, dourada como o sol, argêntea como a lua... Zeca procura, com o olhar comprido, em íntimas paragens, o encanto das tardes de sonho de outrora... Ramiro sente ainda o cheiro bom de terra e de capim molhados e enxerga, protegendo o fundo da paisagem, o horizonte em fogo, como lenço colorado... Túlio, um pouco atrás, evoca vozes, ternamente mansas, trazidas pela boca do vento, que sopram fantasias e lembranças... Antonio Carlos perscruta a noite e lembra a tão próxima Vila Flores, terra sagrada, berço e bom abrigo da bela vida passada, sempre tropeada no corredor das lembranças...

ooooo"Sílvio levanta os olhos e avista uma alma de Quixote cruzando o campo, aguda como ponta de faca campeira, revolta de loucura santa... Mais contemplativo, Carlos Humberto reflete sobre o papel da verdade que, se imagem arrancada dos livros de Geografia, ganharia a suavidade dos riachos, falaria com a simplicidade das águas transqüilas, que não se encrespam de irritação, nem quando as tempestades acabam... E Jaime, feliz, reúne a todos e recita: Eu te agradeço, Senhor, glória tamanha, de viver aqui no terno seio deste povo, terei sempre que agradecer de novo!... E da simpleza do meu gesto me perdoa. Mas é a voz da minha alma que ressoa, neste canto de amor em tom de prece: Obrigado, Senhor! - É Santiago que agradece."

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Froilam,
Sou eu que não tenho palavras para agradecer o que considero uma grande homenagem. Foi emocionante escrever esta crônica tendo à mão o livro precioso que organizaste e que, atualmente, está na minha cabeceira. Graças a ele conheço um pouco mais da obra de nossos poetas e posso admirar o seu talento. Um livro primoroso, que todos os santiaguenses deveriam conhecer. Obrigada! Aprecio demais o que escreves e sou tua leitora assídua.