segunda-feira, 1 de outubro de 2007

NOS POÇOS

Primeiro você cai num poço. Mas não é ruim cair num poço assim de repente? No começo é. Mas você logo começa a curtir as pedras do poço. O limo do poço. A umidade do poço. A água do poço. A terra do poço. O cheiro do poço. O poço do poço. Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços sem fim? A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouco em cada poço. E não dói? Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê.
oooo
oooo
Quando li O ovo apunhalado a primeira vez, em 1980, gostei desse miniconto que abre o livro. Nunca tinha visto um "quê" no final da frase sem a reticência. Para uma avenca partindo também acaba assim, um "quê" e ponto final. Com o Caio, cheguei à conclusão que a reticência é pura pieguice.

3 comentários:

Vivi disse...

Ola amigo
vou tomar cuidado com a retincência!
se bem que sou muito piegas...quê.

Vivi disse...

Ah meu anjo, eu olhei pq vc indicou!!!
Bjus
:)

Patricia disse...

Ah vc é grêmista também...Que bom...
Beijos...