sábado, 27 de outubro de 2007

A ÁGUIA E A GALINHA

Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeava pelo jardim, disse o naturalista:
oooo- Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
oooo- De fato - disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
oooo- Não - retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
oooo- Não, não - insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
ooooEntão decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
oooo- Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
ooooA águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
ooooO camponês comentou:
oooo- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
oooo- Não - tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
ooooNo dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurou-lhe:
oooo- Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
ooooMas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
ooooO camponês sorriu e voltou à carga:
oooo- Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
oooo- Não - respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
ooooNo dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.
ooooO naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
oooo- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
ooooA águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento..."
oooo
(Extaído do livro de Leonardo Boff, A águia e a galinha - Uma metáfora da condição humana.)

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