sábado, 20 de outubro de 2007

CADERNO CULTURA DO ZH

Memória
Nova vida para Caio

Acervo de mais de 3 mil documentos doados para a UFRGS traz material ainda inédito do escritor, como contos e poemas

Caio Fernando Abreu (1948 - 1996) era um exagero. Em 47 anos de vida, foi contista, romancista, tradutor, dramaturgo, ator, exilado e lavador de pratos na Europa. Venceu prêmios como o Jabuti e o da Associação Paulista de Críticos de Arte. Sua obra foi editada em várias países da Europa. Fez seu nome com livros como O Ovo Apunhalado (1975), Morangos Mofados (1982), Triângulo das Águas (1984) e Os Dragões Não Conhecem o Paraíso (1989), além de peças como A Maldição do Vale Negro (de 1989, parceria com Luiz Arthur Nunes). Além de jornalista, foi porta-voz de uma geração. Mas se você quiser mesmo conhecer Caio Fernando Abreu, terá de saber que ele era astrólogo amador, que adorava trabalhar ouvindo o elepê de Nara Leão ... Que tudo mais vá pro inferno (1978), que trocava correspondência com os leitores das colunas que publicava nos jornais, que aperfeiçoava incansavelmente seus contos e romances, datilografando-os com capricho para, logo em seguida, rasurá-los a golpes de caneta Bic azul. Esse CaioFernando Abreu pop, íntimo, irreverente e desconhecido de quem não era seu amigo íntimo, que assinava Caio F., ficou mais fácil de ser descoberto a partir de agosto de 2005, quando o Núcleo de Literatura Guilhermino César, do Instituto de Letras da UFRGS, recebeu de presente oito caixas com mais de 3 mil documentos como fotos,manuscritos, originais de contos e romances, mapas e trânsitos astrológicos, discos de vinil, boletins escolares, lembranças da Primeira Comunhão, tudo do acervo pessoal de Caio.
(A reportagem é extensa.)
Tive uma surpresa ao abrir o Zero Hora deste sábado e ler no Cultura sobre os Textos escondidos de Caio Fernando Abreu. A reportagem traz cópias de páginas datilografadas e corrigidas à mão pelo escritor. Interessante verificar as correções com caneta azul na primeira e terceira versão do conto "Creme de alface", publicado no livro Ovelha Negra.

Estava esquecendo:
Dentro de uma das caixas, estavam guardados 94 poemas inéditos, que estão sendo organizados para futura publicação. A partir de então, não será mais questionável se Caio era ou não poeta. Alguns de seus contos já revelavam uma poética nas entrelinhas.
Gostaria de me reunir com o Márcio Brasil e a Ieda Beltrão para conversarmos sobre Caio Fernando Abreu (que leio desde 1980).


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