quinta-feira, 20 de setembro de 2007

"UMA ESTRELA CINTILANTE"

Os últimos posts do Júlio Prates são extraordinários, revelam uma evolução holística admirável. Como já fiz com um poema em prosa da Vivian, transcrevo Rumo do meu amigo, considerando a parcela de leitores distintos. "Um dos aspectos mais trágicos da vida é a consciência do convívio com a morte e com a dor. Lastimo - nos seres humanos - a presença de dor. Confesso que nunca senti tanta dor em meu corpo como no dia de hoje. Não sei explicar a origem, a dor parece que caminha, formiga, impede o movimento dos braços e gera uma ansiedade e um pavor sem precedentes. Fico inquieto, quero calar-me, mas não consigo. O simples fato de não poder teclar e nem desenvolver meu livro angustia-me ainda mais. Estou muito triste.Também vejo em ruínas uma instabilidade que me acompanhou nos últimos tempos. Não temo as ruínas, pois não temo o caos, assim como não temo os labirintos do pavor da busca, do medo e da incerteza. Ante a convivência do convívio contrariado, não se deve perder a perspectiva que, mesmo na incerteza, paira algum fundamento de certeza. O fundamento de certeza que ronda nossas almas pode ser um tênuo fio que conduz ao absurdo, ao nada, ao caos e ao abismo, mas nem por isso deixa de ser certeza. Agora isso, o tudo mais apresenta-se como perspectiva edificadora, afinal, depois do caos só pode mesmo desabrochar uma estrela cintilante. Eu temo o caos, eu não temo o caos. Quero dormir um pouco e sonhar que vou acordar sem dor ou com a dor mais aliviada. E que outros tormentos tomem o rumo de uma latrina." Esta crônica, pungente por seu tom confessional, possui uma beleza rara (própria de uma supernova). Nietzsche estava muito certo: a existência do mundo (e a do próprio ser pensante) não se pode justificar senão como fenômeno estético.

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